Os 194 países membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) reconheceram o quanto é fundamental a atenção primária a saúde.
As despesas e investimentos dos serviços de saúde variam entre os países, mas representam globalmente 5,7 trilhões de dólares por ano.
Já é certo que neste setor de orçamento milionário, gastos não representam eficiência.
Acredito que a tecnologia médica e inovações recentes de dispositivos médicos, podem ser exploradas para melhorar os resultados da saúde.
Estima-se que 20% a 40% dos valores aplicados na saúde são desperdiçados ao ano, além de 5% gastos em medicamentos supérfluos.
Essa ineficiência é a limitação de recursos e responsável pela dificuldade do alcance da Cobertura Universal.
A Assembleia mundial da Saúde diz na Resolução 58.33 que todos devem ter acesso a serviços de saúde sem necessidade de sacrifícios financeiros.
Ainda assim, esse é o discurso, distante da realidade. Os serviços públicos, na grande maioria dos governos, é utilizado com mais frequência pela classe rica da sociedade.
As dificuldades ou obstáculos mais presentes, que justificam essa realidade, pode ser resumida no acesso à estrutura de saúde.
Fruto da limitação financeira, dificuldade de locomoção, baixa capilaridade do sistema estrutural e ausência de profissionais de saúde, a população mais pobre certamente é vítima da circunstâncias.
De qualquer forma, mesmo em meio a estratégias e oportunidades de melhorar a eficiência do sistema, os países precisam fazer mais visando angariar fundos para saúde.
A classe política, principalmente, poderia dar passos importantes nas pautas de saúde, buscando novas regulações e legislações que ajudem a viabilizar o melhor desempenho dos serviços gerais de saúde, com foco em qualidade e equidade.
A principal causa da ineficiência da saúde mundial está relacionada aos medicamentos.
A super-indicação de medicamentos, a subutilização de genéricos, preços elevados, uso de medicamentos de qualidade inferior (ou ainda, a utilização inapropriada ou ineficiente e controle inadequado), incentivo para prescrição e baixa eficácia, impostos e taxas elevadas, distribuição mal administrada e mark-up excessivo em toda a cadeia de suprimento são aspectos que impactam severamente o custo mundial da saúde.
Para cada tópico, há uma solução. Por exemplo: repensar os impostos e taxas, rever os preços dos medicamentos, focar em compras por licitações, reestruturar o modelo das prescrições médicas, melhorar as anamneses e dar preferencia pela utilização de genéricos ou biossimilares (medicamentos biológicos aprovados pelo FDA).
As possibilidades de ações e melhorias dão amplas. Podemos ainda, repensar a cooperação entre as autoridades responsáveis pela construção de orçamentos transparentes e eficientes, estabelecer estratégias de gerenciamento de dados apoiando a monitorização do governo, incentivar a luta contra a corrupção e fraudes, e a utilização correta dos recursos públicos.
No âmbito de gestão de pessoas, é fundamental ter uma definição clara dos papéis das autoridades públicas, além de melhorar a qualidade dos recursos humanos.
Desenvolver meios para melhor administração dos preços dos medicamentos, analisar os tratamentos de continuidade, reforçar a sustentabilidade dos cuidados hospitalares, entre tantas outras atividades que otimizem as verbas públicas, possibilitam a adoção de decisões economicamente eficazes das coberturas.
Para completar, é importante implementar ações que minimizem o impacto futuro no sistema de saúde, utilizando novas tecnologias para controle e análise de tendência, e campanhas, e ações multissetoriais preventivas.
A corrida pela cobertura universal de saúde é longa. Gostaria de destacar dois países para os quais, essa é uma das prioridades: a China e os Estados Unidos da América.
A China, em 1978, anunciou seus planos para prestar serviços de saúde eficazes, seguros e acessíveis, capaz de atender até 2020, todas as zonas urbanas e rurais.
Dois anos após a Covid-19 ainda há a esperança de ver este plano concretizado, já que os serviços de saúde gratuitos, que giravam em torno de 20%, hoje representam 60%, graças a criação de cooperativas governamentais em 2003.
Os Estados Unidos da América (EUA) estendeu em 2019 a cobertura de seguro de saúde atingindo 32 milhões de americanos anteriormente descobertos.
As seguradoras não poderão mais rejeitar americanos com base na situação de saúde ou financeira, pois os mesmos terão apólices subsidiadas pelo governo.
Essa nova regra terá um impacto importante para os caixas públicos, já que as dívidas médicas, de acordo com Harvard, cresce 60% ao ano.
A prioridade da OMS, como co-promotora das Nações Unidas, é a busca pelo desenvolvimento de um modelo que traga melhor proteção ao risco financeiro e, em simultâneo, coberturas cada vez mais abrangentes.
As despesas em saúde, por consequência dos fatores mencionados, tendem a ocupar uma percentagem crescente do PIB.
Seja pela queda do PIB ou aumento das despesas com saúde, esse indicador tende a piorar com o envelhecimento da população mundial, com o elevado custo da tecnologia e com o aumento das expectativas de qualidade de atendimento e solução.
Precisaremos enfrentar as contínuas derrapagens orçamentais, desigualdade na acessibilidade aos serviços e cuidados de saúde, inconstância politica e as alterações de prioridades, além de fraudes e corrupção. Juntos esses fatores poderão gerar um impacto de 0,9 do PIB até 2060, segundo a OCDE.
O painel no Brasil de acordo com dados da OCDE em 2021, com despesas na ordem de R$ 692,88 Bilhões, tem representado 9.30% do PIB de 2020, 43,93% em gastos públicos que representam R$ 304,41 bilhões e 56,07% que representam R$ 388,47 bilhões, em gastos particulares, sendo R$ 171,50 bilhões privados e R$ 216,97 bilhões saúde suplementar.
Do montante total, R$ 130,62 bilhões são gastos do governo federal, R$ 100,16 bilhões do governo estadual e R$ 73,63 bilhões do governo municipal.
As despesas per capita com saúde no mundo, analisadas em USD, coloca os Estados Unidos da América na 1º posição com 11.072 e em 2º lugar a Suíça com 7.732. Nesse ranking, o Brasil aparece em 21º lugar com 1.282, sendo a média da OCDE 4.224 dólares.
Na proporção das despesas em relação ao PIB, o Estados Unidos da América alcança 16,96% e ocupa o 1º lugar sendo 14.38%, despesas públicas e 2.58% privadas.
Este indicador segue a tendência mundial e deverá subir uma média de 5% nos próximos 5 anos.
Já a Suíça, na análise da representatividade das despesas de saúde no PIB, também ocupa o 2º lugar, com 15,54%, sendo 7,83%, despesas públicas e 7,71% privadas. Já em 3º lugar está a Alemanha com 13.06% sendo 9.91% publicas e 3,15% privadas.
O Brasil, neste indicador, sobe duas posições, e ocupa o 19º lugar sendo 3,96%, despesas públicas e 5,24% despesas privadas. Vale ressaltar que, conforme a OCDE (Organização Cooperação para o Desenvolvimento Econômico), apenas em 4 países no mundo o gasto privado supera a despesa do poder público, são eles: Brasil, Portugal, Chile e Coreia do Sul.
Os países da União Europeia (UE), com maiores custos concentrados no atendimento de saúde privado são: o Chipre com 54% do total gasto com saúde, Bulgária com 46%, Letônia com 43%, Malta com 43% e Grécia com 41%.
Nos estados-membros da UE, os países que mais tem despesas financiadas pelo governo são: a Alemanha com 85% dos seus gastos com saúde pagos pelo governo, Dinamarca e Suécia com 84%, República Checa e Luxemburgo com 83% do total dos seus gastos com saúde.
Os países estão na busca de ofertar acesso financeiro a serviços fundamentais com extensão da proteção do risco.
A OCDE, preconiza que 150 milhões de pessoas anualmente sofrem uma catástrofe financeira na busca serviços de saúde por pagamentos diretos. Situação crítica e lamentável, essa ainda é a realidade do atendimento de saúde mundial.
Muitos países têm demonstrado possibilidades de alcançarem a Cobertura Universal e reduzir o impacto financeiros dos custos da saúde, mas teremos ainda um longo caminho a percorrer.
O bem-estar humano está diretamente relacionado às condições de saúde. Essencial para o desenvolvimento econômico e social de uma nação, o acesso universal e digno à saúde está na constituição da Organização Mundial de Saúde (OMS).
São necessárias ações claras para proteger os ganhos já obtidos e também avançar. Fica a reflexão a todos os envolvidos nessa cadeia de produção, distribuição e prestação de serviço, de como podemos contribuir na melhoria desses indicadores e desempenho da saúde mundial.
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Com experiência em multinacionais como Alcoa, Shell e Telefonica, atuou nas principais empresas de medicina de Grupo do Brasil. Com especializações pela FGV em Gestão de Negócios e Marketing de Serviços e MBA em Administração e Gestão de Negócios, atua como CMO da Biomecanica e Grupo Bioscience desde 2012.