A mudança dos hábitos de consumo, a democratização do uso de aparelhos tecnológicos e o desenvolvimento da comunicação são alguns fatores que permitiram a transformação do comportamento da sociedade em diversos aspectos.
Na Saúde essa mudança não é diferente. Exemplo disso é a transformação que a instituição Hospital vem passando ao longo dos anos. Para Arthur Bretonnet, Head de Inovação Digital em Healthcare da empresa europeia SFY, hoje, o Hospital não tem apenas o objetivo de salvar vidas, mas sim oferecer qualidade de vida por meio de serviços que respondam aos desafios atuais, sem se esquecer de manter a sustentabilidade para o futuro.
Bretonnet traz na seção Perfil desta edição sua visão sobre Tecnologia, a atuação do novo paciente e as novas experiências mundo a fora e defende que “os hospitais do futuro abram um departamento de inovação digital, em que todas as áreas, pacientes, familiares, médicos, startups, empresas de telecomunicação e fornecedores dividam o espaço para desenvolver projetos juntos.”
Tecnologia X Medicina
“Por um lado, a medicina pertence ao mundo científico, prudente e baseado na evidência científica. Por outro lado, a tecnologia avança a 200 por hora, tornando qualquer novidade em objeto obsoleto em três meses. Na média, consideramos que as tecnologias emergentes têm sete anos entre a saída no mercado, a implementação e a adoção. São anos perdidos pelo paciente e também pelo hospital, que perde anos de competitividade.”
DEFENDO QUE OS HOSPITAIS DO FUTURO ABRAM UM DEPARTAMENTO DE INOVAÇÃO DIGITAL, EM QUE TODAS AS ÁREAS, PACIENTES, FAMILIARES, MÉDICOS, STARTUPS, EMPRESAS DE TELECOMUNICAÇÃO E FORNECEDORES DIVIDAM O ESPAÇO PARA DESENVOLVER PROJETOS JUNTOS.
Novo paciente
“Hoje, os pacientes chegam ao hospital com uma lista de sintomas, nomes de possíveis doenças, tratamentos em curso de validação e é muito provável que busquem uma segunda opinião. Essas etapas não existiam há 10 anos, o que demonstra que a tecnologia e a informação permitiram ao paciente se tornar ator da sua saúde e participar ativamente do processo de tratamento para maximizar seu restabelecimento e ter uma vida normal. Na Europa, um paciente com esclerose múltipla tem 30 minutos de visita com seu neurologista a cada 2 meses, ou seja, 6 horas por ano. Quais soluções o hospital pode propor para melhorar a qualidade de vida durante as 8764 horas restantes? Hoje existem mais de 350 mil aplicativos de saúde. Quantas vezes o médico indica um app para melhorar a experiência com a doença?”
De olho no futuro
“Defendo que os hospitais do futuro abram um departamento de inovação digital, em que todas as áreas, pacientes, familiares, médicos, startups, empresas de telecomunicação e fornecedores dividam o espaço para desenvolver projetos juntos. Por exemplo, o primeiro contato do paciente, que não esteja em casos de emergência ou acidente, poderia ser por teleconsulta para diagnosticar, iniciar o tratamento ou direcionar para um especialista sem ter que ficar em fila de espera e se limitar naquela zona geográfica.Os médicos poderiam sugerir aplicativos confiáveis para ajudar o paciente no acompanhamento do tratamento e utilizar plataformas sociais para interação entre as pessoas que possuem a mesma doença, como forma de dar apoio moral, compartilhar dicas que ajudem a melhorar seu dia a dia. Com a plataforma de acompanhamento remoto, as equipes médicas poderiam otimizar seu tempo revisando os dados de pacientes e focar esforços em resolução de casos mais complexos.”
Cultura x Tecnologia
“Os países do norte da Europa como Dinamarca, Noruega e Finlândia são os mais avançados. Por exemplo, o sistema nacional de saúde da Estônia usa a tecnologia blockchain para proteger 1,3 milhões de dados de pacientes e e-receitas desde 2016. Desta forma, podem maximizar os intercâmbios entre sistemas, hospitais e cidadãos. Esses países têm uma cultura assumida de inovação dentro do hospital, elevado nível de conhecimento digital e uma mentalidade de empreendedorismo que favorece a criação de novas soluções. Mas, infelizmente, a maioria dos países está longe desse modelo e a razão principal dessa diferença é cultural.”
Quebrando paradigmas
“Um projeto de inovação que estamos desenvolvendo para um hospital auxilia mulheres que possuem alto risco de complicações durante a gravidez. Há 50 anos, essas pacientes precisavam fazer um exame para medir a frequência cardíaca fetal e as contrações uterinas durante 20 minutos, duas vezes por semana, no hospital. Em um hospital de referência e com a ajuda de um obstetra visionário, lançamos um processo de design sprint e workshops com futuras mães, médicos e enfermeiras. Em paralelo, identificamos um aparelho pequeno, que pode ser levado no bolso. O resultado é que a mãe pode medir o batimento e as contrações em casa, duas vezes por dia e sem ter que se deslocar para o hospital. A plataforma permite que os médicos sigam de maneira remota um número elevado de mães. E depois do nascimento do bebê, o obstetra tem que alimentar informações sobre a criança e a mãe na plataforma. E assim, a inteligência artificial ajuda o médico a tomar uma decisão mais adaptada. ”
Esta matéria foi publicada na 55ª Revista HealthCare Management.