A cada ano, o mercado da saúde privada no Brasil está mais concentrado, ou seja, na mão de poucas empresas. Muitos dirão que é um fenômeno mundial, o que não deixa de ser uma verdade, porém a pergunta que fica é se estamos preparados para isso?
Situações de concentração de mercado em países como o nosso nos deixa à mercê da ganância, da falta de ética, que é sempre colocada de lado e da política do vale tudo pelo resultado financeiro. É evidente que as empresas visam lucro, não sejamos hipócritas, mas não dá para colocar o paciente em último lugar e esquecer que no setor da saúde lidamos diretamente com a vida das pessoas.
Os questionamentos são múltiplos. O paciente está realmente sabendo o que e melhor para ele? Quando da contratação de qualquer serviço, ele realmente está orientado? A empresa que prestará o serviço está preocupada com essa pessoa? Ou somente com a saúde financeira da empresa?
A Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde – Abraidi – tem externado essa preocupação em discussões setoriais da qual tem participado, em reuniões com órgãos governamentais, parlamentares, agências reguladoras e com representantes de associações ligadas aos planos de saúde e operadoras. Números expressivos sobre as distorções do setor de saúde foram levantados pela Associação, pelo segundo ano consecutivo, e tem sido amplamente divulgados.
Mas, nos últimos tempos, temos nos preocupados ainda mais com denúncias feitas na imprensa sem qualquer consequência. Uma rede nacional de televisão exibiu reportagem onde um dos maiores planos de saúde orientava médicos na escolha de prótese pelo preço, ou seja, pelo DMI mais barato. Advogados especializados ouvidos pela emissora de TV esclareceram que a prática é absolutamente ilegal.
A Abraidi tem se posicionado favorável à legislação em vigor país. A lei garante que o médico tem a liberdade de optar por três marcas diferentes para utilizar nas cirurgias. A prerrogativa da escolha é técnica e médica e de acordo com o que for melhor para a saúde e recuperação do paciente. Não pode estar atrelada a qualquer questão financeira, como o valor pago pelo usuário ao plano de saúde.
Gostaríamos de alertar à população e às autoridades para que esse assunto seja analisado sob uma potente lente. Não podemos deixar passar em branco como entidade que representa uma parte significativa da saúde brasileira. Cada vez mais precisamos discutir a saúde em nosso país de forma ampla e envolvendo todos os players. Não podemos deixar que a concentração em poucas mãos, faça que caminhemos a passos largos rumo ao caos do sistema de saúde.
Este artigo, redigido por Sérgio Rocha, presidente da Associação Brasileira de Importadores e Distribuidores de Produtos para Saúde – ABRAIDI, foi publicado originalmente na edição 62 da revista Healthcare Management.