“O que você compreende por cultura no ambiente hospitalar?”, por Victor Basso, da Opuspac

Nos referimos a atitude de indivíduos e dos grupos a quem pertencem. E sendo a melhor cultura como aquela atitude justa, horizontalizada e transparente.

Talvez, a pior cultura, seja aquela, onde as pessoas pensam que tudo seguirá igual, não importa o que aconteça, nada vai mudar nem melhorar, não importa o que você faça.

Deveríamos classificar ao menos dois tipos de cultura: as centradas em poder e as centradas em valores.

As centradas em poder como hierarquizadas ou verticalizadas, normalmente configuram um ambiente de medo. As pessoas operam com forte incidência de medo da autoridade e suas consequências.

As centradas em valores, por outro lado, são mais horizontais, pois não há uma excessiva gama de autoridade entre um operador e outro. Onde deve existir a justiça atuando para respaldar os indivíduos e as regras que também fazem parte desse sistema de valores.

Por que é disfuncional ter uma cultura de poder dentro de um ambiente hospitalar?

Diversos autores definiram o ambiente hospitalar como um sistema complexo, e o que seria um sistema complexo?

Um ambiente complexo é um entorno, onde existem várias ações ou “drivers” que promovem ações que geram reações. Não existe uma relação direta de causa e efeito entre eles, nem entre suas reações ou consequências.

Às vezes as reações são desproporcionais as mudanças nos drivers. Não é que existe um caos, mas existe outro tipo de ordem não direta, não linear.

Nesse ambiente temos fatores inibidores atuando e preservando o sistema, assim como catalizadores, fatores que promovem a mudança, que podem ser estimulados. Temos drivers que pela ação de outros, são realimentados positivamente e outros que são alimentados negativamente. Não existe a proporcionalidade das consequências.

Não saber exatamente como funciona um sistema complexo, não quer dizer que seja caótico. Somente que a regra de 1 + 1 = 2 não funciona.

O pensamento linear não nos ajudará, uma lógica relacional ou relativa, onde não existe o certo absoluto, nem errado absoluto, nos guiará melhor.

Haverá muitos casos de resultados paradoxais, simplesmente são aqueles cuja lógica ainda não entendemos, não por isso, menos lógicos.

No hospital existe a integração entre ambiente humano, ambiente tecnológico, interesses particulares dos indivíduos, sendo a característica do sistema sócio complexo. Mas isso, não significa que não tenha de realizar também muitas operações com uma sequência determinista de uma operação militar, como nas tarefas de logística, limpeza, produção, administração entre outras.

Para todas aquelas operações onde é necessária a participação de várias pessoas e critérios na hora de tomar decisões, uma cultura baseada em valores se destaca sobre uma cultura apoiada em poder.

Uma cultura horizontalizada não quer dizer totalmente horizontalizada, não é uma democracia, onde se vota um procedimento. É uma cultura onde o auxiliar pode informar a um grande cirurgião que houve um desvio ou erro no procedimento.

Mas seguimos necessitando dos líderes, ainda em situações em que se impera o complexo. É uma boa prática que as soluções sejam buscadas organicamente em pessoas especialistas, com conhecimento e habilidades e não apenas na cadeia de mando e chefia.

Uma boa cultura se nutre de transparência. Para existir uma cultura baseada em valores, todos devem ter acesso à informação, com grande transparência. A transparência é a ética do século XXI. Os sistemas são mais complexos que antes e requerem a participação e colaboração de todos para a redução de erros.

Muito se fala da cultura de culpabilidade, aquela que culpa as pessoas pelos erros ao invés de buscar as falhas que existem dentro do sistema. Com poucas exceções, as falhas são sempre causadas por um sistema com erros ou pouco seguro. A solução deve considerar, ao menos, o mesmo nível de complexidade que o problema.

Os seres humanos erram então, o desenho de qualquer sistema deve manter essa informação em mente, assim poderá prever as consequências para quando acontecer erros naturais.

A tecnologia como aliada para a mudança

Pode levar algum tempo para mudar uma cultura, pois há muitas mentes e processos envolvidos, inclusive com a ajuda das tecnologias é possível a realização dessa mudança. Para isso, é necessário estar disposto a dar o primeiro passo para essa transformação na cultura do hospital.

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