Os pequenos avanços da Inteligência Artificial no Brasil

Falar sobre a aplicação de Inteligência Artificial (AI) na saúde já pode ser considerada uma pauta tão antiga quanto o termo, utilizado pela primeira vez entre as décadas de 1940 e 1950 mas, há quem defenda que este conceito é bem mais antigo, pensado por filósofos gregos em 300 a.C.

O fato é que esta latente realidade bate, há anos, em nossa porta e já vem sendo utilizada por muitas instituições de saúde em todo o mundo, seja ela embarcada em prontuários eletrônicos, sistemas de suporte à decisão médica, análises preditivas e robôs.

Em um artigo publicado no site da revista Healthcare Management, o oftalmologista e professor adjunto livre-docente na Unifesp-EPM, Walton Nosé, defende os benefícios inquestionáveis do uso de AI na saúde e minimiza o receio de colegas que temem serem substituídos por uma máquina em um futuro não tão distante. “A inteligência artificial pode, portanto, proporcionar melhores resultados e maior segurança na tomada de decisão do profissional frente a algo específico a ser realizado, mas é o próprio médico o principal protagonista que, com sua experiência, técnica, habilidades cirúrgicas e, ainda, conhecimento profundo, poderá fazer o melhor uso da ferramenta para benefício de quem mais importa nessa jornada: o paciente.”

As evoluções no campo da AI avança de maneira acelerada, principalmente, após, em 2018, o Google anunciar ao mundo que seu sistema, Google Duplex, superou o teste de Turing, ao realizar um agendamento em um salão de beleza com uma atendente que não reconheceu o robô do outro lado da linha telefônica.

Em fevereiro, a IBM e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) anunciaram o investimento de US$10 milhões na criação de um centro dedicado ao desenvolvimento e pesquisa sobre inteligência artificial no Brasil. Considerado o mais avançado centro de pesquisas da área em território nacional, a iniciativa dedicará seus esforços para diferentes segmentos, entre eles a saúde.

Este novo laboratório também será o primeiro da América Latina a fazer parte do IBM IA Horizons Network (IAHN), desenvolvido em 2016 para promover a integração e colaboração entre as principais universidades do mundo e pesquisadores da multinacional comprometidos em acelerar a aplicação de IA a alguns dos maiores desafios globais, como assistência médica, processamento e reconhecimento de imagem, aprendizado de máquina, processamento de linguagem natural e tecnologias relacionadas.

Outra parceria dentro deste segmento que movimentou recentemente o setor de saúde foi a aplicação de AI na identificação de lesões em tomografias de crânio por meio de inteligência artificial, auxiliando e sinalizando, via sistema, que o paciente deve ter o atendimento e o laudo priorizados.

Essa tecnologia, desenvolvida pela AIDOC, startup israelense dedicada em aplicar inteligência artificial ao campo da radiologia, foi adotada pela Fundação Instituto de Pesquisa e Estudo de Diagnóstico por Imagem (FIDI) e aplicada aos serviços de diagnóstico por imagem realizados no hospital do Mandaqui, em São Paulo. A unidade é a primeira a ter em funcionamento a tecnologia.

A iniciativa concretiza o primeiro projeto de pesquisa de inteligência artificial no diagnóstico por imagem para a rede pública do Brasil. A expectativa é oferecer atendimento qualificado no menor tempo possível em casos de traumatismo craniano, acidente vascular cerebral e outras situações que determinem dano cerebral, a fim de reduzir sequelas e salvar vidas.

Desde o lançamento do projeto, no início deste 2019, cerca de 92% dos casos de sangramento intracraniano onde o sistema atuou o tempo de laudo foi reduzido em 36 minutos.  Desenvolvida há dois anos, em novembro de 2017, a ferramenta recebeu o CE Mark, certificação da União Europeia que atesta a aplicabilidade e segurança de dispositivos médicos e, em outubro de 2018, recebeu autorização da Food and Drug Administration (FDA) para atuar nos EUA.

“Embora muito se ouça falar sobre o potencial desta tecnologia, ainda não temos conhecimento sobre grandes cases demonstrando ganhos reais”

Felipe Colucci

AI e os avanços na saúde Brasileira

Os avanços no campo de Inteligência Artificial podem ser constatados em diversos segmentos dentro da área de saúde, porém, os mais significativos estão no segmento diagnóstico. Grandes hospitais e laboratórios (de análises clínicas e diagnóstico por imagem) apostam nessas soluções como forma de dar subsidio a um tratamento mais assertivo em função do diagnóstico mais rápido e preciso.

“Embora muito se ouça falar sobre o potencial desta tecnologia, ainda não temos conhecimento sobre grandes cases demonstrando ganhos reais, seja na assistência, seja na redução de custos”, acrescenta o head de TI na Clínica Fares e Diretor na ABCIS, Felipe Colucci.

Colucci acredita que a palicação dessa tecnologia seria um grande diferencial dentro do setor no campo da prevenção. “Infelizmente, no Brasil, ainda trabalhamos muito mais buscando a cura do que a prevenção. Entendo que a IA tem um grande potencial, através de análises preditivas, que os hospitais em parceria com as operadoras podem trabalhar no sentido de prevenir doenças”. Ainda segundo ele, Isso faria com que a oferta de serviços de saúde fosse muito melhor e os custos otimizados.

O especialista também destaca algumas barreiras enfrentadas pela saúde que impedem o rápido avanço da AI. A primeira dificuldade, segundo ele, e a que mais interfere são as questões culturais. “Não só para IA, mas para várias outras tecnologias (Nuvem, RPA, etc..) as organizações de saúde ainda esbarram em questões culturais e de muita resistência. A maioria delas não nasceu no mundo digital e, consequentemente, não possuem um DNA inovador.”

A segunda, e não menos importante, seria o custo de acesso à inteligência artificial. Infelizmente muitos fornecedores de soluções e serviços de TI ainda não entenderam a realidade financeira da saúde no Brasil e insistem em projetos que chegam a custar milhares de dólares, inviabilizando uma grande parte dos projetos.

“Nós, gestores de TI, não podemos nos eximir de culpa. Muitas vezes não dedicamos o tempo necessário para esses assuntos, e, quando temos a iniciativa, ainda não conseguimos emplacar de maneira adequada os projetos para a altão gestão”, conclui o executivo.

  • Matéria publicada na 12° edição da revista Healthcare It.

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