Pandemia – Aprendizados para a próxima, por Lauro Miquelin
A economia da saúde movimentará impressionantes US$ 8 trilhões de Dólares em todo o Mundo em 2020: 9% do PIB no Brasil e na média dos países da Comunidade Europeia e 17% nos Estados Unidos.
Em vários países, as organizações ligadas a Saúde & Bem Estar já geram mais empregos que a indústria.
Além das lamentáveis mortes pela COVID 19, há números muito maiores de mortes e agravos de doenças dos pacientes com outros problemas além da COVID 19.
A Pandemia do SARS COV 2 provocou e provocará imensos impactos na economia global e nas cadeias de fornecimento do setor Saúde.
Temos que administrar impactos para conviver nesta Pandemia e nas próximas.
Convido-o a leitura e a contribuir com suas reflexões.
Quem sabe não usamos o que estamos aprendendo na criação de soluções sistêmicas para o Novo Normal?
Não estávamos preparados
O Mundo já viveu Pandemias quando era menos urbano e sem palanques digitais.
Na Gripe Espanhola éramos menos de 2 bilhões.
Nos últimos 100 anos, nós, terráqueos, fomos juntando ingredientes para o Pandemônio perfeito: metrópoles apinhadas com milhares de viagens entre trabalho e moradia, transporte público lotado, bilhões de pessoas ainda sem saneamento básico.
Além disso, uma quantidade razoável dos 7,8 bilhões de habitantes cruzam, com certa facilidade, fronteiras imaginárias.
Mas, mesmo carpinteiros do cenário, não, não estávamos preparados: quem se prepararia para um filme de Terror da pior qualidade?
Comandante Sully agiu sem Manual, num evento sem precedentes.
Quando enfrentamos o inesperado, tempo de resposta depende de nível de atenção para o momento, biografia, conhecimento e “jeito de ser”.
É o “preparo” de cada um.
Em janeiro de 2009, segundos após a decolagem, as turbinas de um AIRBUS 320 engoliram um bando de pássaros e o avião começou a cair.
Chesley Burnett Sullenberger III, Comandante Sully, pousou incríveis 79 toneladas do avião no Rio Hudson, em Nova Iorque. Todos os 155 passageiros e tripulantes foram resgatados das águas geladas em menos de 25 minutos.
Testemunhando sobre o acidente, Sully lembrou que todos se salvaram porque ele, na falta de manual, usou seu preparo; e os demais – co-piloto, tripulação, passageiros, torre de controle, barcas, equipes de resgate, policiais e profissionais de saúde que atenderam os acidentados – deram a resposta absoluta.
O ataque às Torres Gêmeas em 2001 havia preparado Nova Iorque para enfrentar catástrofes.
Não havia preparo para o SARS COV2 e sua COVID 19.
Então, com humildade, devemos aprender a conviver nesta Pandemia até a vacina; e desenhar planos para reduzir os impactos das próximas Pandemias (que virão) na continuidade do atendimento aos demais pacientes e da produção: a paralisia da economia cobra pedágio mais caro dos mais vulneráreis.
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Primeiro Aprendizado – Comunicação: Fique em Casa x Pode vir que é Seguro
4h da manhã e a dor de cabeça o alarma: medo de derrame.
Lembra do “Fica em Casa” nas fotos das equipes de saúde nas redes. O cérebro apaga o “estamos aqui por você”.
O medo de morrer fica maior que o do Novo Coronavirus; tem sorte, acesso e vai ao Pronto Atendimento do Plano de Saúde. Está tudo inesperadamente calmo.
Entra, vira um Paciente, é atendido, medicado e tranquilizado: felizmente, só um susto.
O médico chama sua atenção: “manera no pururuca e na ovelha gorda” e manda você para casa.
Esta história tem final feliz.
Há muitas outras tristes que ainda estão sendo escritas pelo medo de procurar atendimento: hérnias que complicam, amputações de “pés diabéticos”, mortes e agravos por doenças cérebro cardiovasculares e câncer.
Suicídios aumentaram pela desesperança & solidão.
Há aumento de patologias mentais.
“Fique em casa” viralizou como uma resposta simples e errada a um problema complexo.
O fato é que enfrentando o desconhecido, sem Manual de Instruções, Lideranças Políticas e de Saúde endossaram a mensagem, de um lado para comprar tempo para entender a doença e preparar a estrutura de cuidados; e de outro, para desenhar formas de manter o avião da produção voando na Pandemia.
O desafio dos líderes da Saúde em todo o mundo, ainda por um bom tempo, será substituir “Fique em Casa” por “Pode vir, é seguro”, que traduz a razão de ser das Organizações de Saúde: elas existem para que TUDO FUNCIONE para o convívio de todos os pacientes, com ou sem infectocontagiosas.
A Organização onde tudo funciona é aquela na qual todas as peças do sistema de cuidados estão alinhadas para resolver problemas dos pacientes e acompanhantes; e quando o problema não tem solução, o contexto, promove o melhor estado possível de bem estar.
O “Fica em Casa” foi só um dos elementos do Pandemônio. Para aumentar a confusão, o Brasil de 2020, que já vinha polarizado, tem eleições nos mais de 5 mil municípios.
Talvez, no futuro, consigamos entender quantos e quais entre os 11,2 mil políticos brasileiros (Prefeitos, Governadores e Presidente, Ministros, Secretários municipais e estaduais de Saúde.) acertaram nas decisões e tempo de resposta.
E talvez, no futuro, os Líderes de Hospitais, Diagnósticos, Consultórios e Clínicas reavaliem SE tomaram a melhor decisão endossando a mensagem e aceitando a recomendação da ANVISA e Ministério da Saúde – “Redução de eletivas” – sem computar a maioria dos pacientes. As evidências, por enquanto, mostram que não.
Mas é cedo para fazer boa ciência: nos próximos meses e anos processaremos mais dados e informações.
Neste cenário não é fácil reconstruir a comunicação.
Só se desmonta uma mensagem errada explicando os ingredientes da mensagem certa.
Uma palavra que parece nome de biscoito napolitano – PeProCuTe – pode ajudar a lembrar dos ingredientes que fazem tudo funcionar na eficiência sistêmica: “Pe” de Pessoas, “Pro” de Processos, “Cu” de Cubos componentes do Edifício e “Te” de Tecnologias.
Mas só oferecer Biscoito não adianta: os “confeiteiros” terão que mostrar aos pacientes e acompanhantes que comem a própria comida.
2. Segundo Aprendizado: Pandemia cria Pandemônio também na Economia da Saúde
- Os pacientes “ficaram em casa” e a Medicina Suplementar vai encolher.
Operadoras de Planos e Seguro Saúde reforçaram o caixa com inesperados R$ 22 bilhões (*) considerando 90 dias a partir do início da recomendação de contenção de contatos sociais em 15 de março de 2020.
Captarão juros nos Bancos; e depois pagarão os serviços represados.
Quando os atendimentos NÃO COVID forem completamente retomados, sinistralidade pode não ser o maior problema pois o “caixa é o Rei” e quem está entesourado negocia melhor.
No meio da Pandemia, publicaram-se dados da ANS – Agência Nacional de Saúde – referentes ao crescimento de vendas dos Planos de Saúde em Março.
A contabilização das contratações era de Fevereiro, mês do Carnaval Avestruz PRE- COVID 19, quando nem a Organização Mundial da Saúde havia levantado o alerta vermelho de Pandemia.
A ANS prometeu desbloqueio de aproximadamente R$ 15,5 bilhões de provisionamentos que exige das Operadoras de Planos de Saúde para cobertura de pagamentos de eventos não programados.
A Pandemia COVID 19, definitivamente, é um evento não programado.
A maioria das Operadoras não aceitou a oferta com medo das condições de contrapartida da liberação.
Neste inverno, com tanta mão lavada, álcool gel e distanciamento social, é provável que as gripes sazonais sejam menos prevalentes. Mas apesar da redução das doenças infectocontagiosas, há tendência de aumento dos custos das Operadoras com complicações dos casos procrastinados e agravados.
A recessão & desemprego já estão esfriando receitas e resultados das Operadoras e Seguradoras de Saúde.
No momento em que escrevo, 5 milhões de empregos evaporaram.
Empresas em todo o Mundo estão demitindo, revendo custos e, quando não cancelam contratos, estão pressionando Operadoras e Seguradoras por Preços mais baixos.
Migração para produtos mais baratos vai crescer.
Os Gigantes vão comprar Operadoras menores com problemas.
As Operadoras pequenas, inclusive as da marca Unimed, serão pressionadas a acelerar processos de fusão com irmãs fofas ou inimigas .
Junior Seripieri, fundador da Corretora Qualicorp, após 70 dias internado com agravos da COVID 19, lançou sua Operadora de Planos baseada em uso intenso de Tecnologias de Informação e aparentes incentivos para os pacientes cuidarem melhor da própria saúde.
Soluções de Tecnologia de informação tem permitido o aparecimento de negócios que buscam reduzir custos e melhorar a experiência dos usuários.
Não descarto, num prazo bem curto, aparecimento de modelos de negócios que coloquem em cheque a serventia – e até a sobrevivência – das Operadoras de Planos de Saúde e Seguradoras, cujos modelos são baseados em intermediação.
Na outra ponta, a receita dos Prestadores de Serviços caiu.
Aqueles R$ 22 bilhões que ficaram no caixa das Operadoras, considerando os valores médios diários que as Operadoras e Seguradoras pagariam para os atendimentos entre 20 de março e 20 de junho, não irrigaram Hospitais, Centros de Diagnóstico, Unidades de Reabilitação.
Até Unidades de Tratamento Ambulatorial para Pacientes com Câncer (!) e Doenças Renais Crônicas (!!) reduziram o movimento e as receitas.
Este dinheiro voltará a fluir.
Mas, nas avaliações da ANAHP, postergações e cancelamentos permitem prever queda média 30% nas Receitas de 2020 nos mais de 25 mil leitos de seus Associados.
Custos e Despesas aumentaram.
Ganância e leis de mercado elevaram os preços de Equipamentos Médicos e de Proteção Individual.
Além disso, alguns líderes previdentes reforçaram o estoque de medicamentos.
R$ 2 bilhões foi a despesa adicional na Medicina Suplementar, entre metade de março até 15 de maio, segundo projeções de nosso Núcleo de Economia em Saúde.
Uma leitura otimista?
O “caixa enfartado” será revascularizado pela retomada das cirurgias e tratamentos postergados.
E os casos virão agravados gerando mais receita para os Prestadores.
A realista, baseada em evidências?
Há ingredientes para a tempestade perfeita que atingirá milhares de Organizações menores, barcos pequenos no maremoto:
- A retomada dos atendimentos eletivos está lenta.
O “Pode vir que é Seguro” ainda não venceu o “Fique em Casa”, mesmo para os pacientes com riscos de agravos de problemas.
- Milhares de Organizações de Saúde, Formigas Trabalhadeiras – notadamente Hospitais de pequeno porte e Diagnósticos nas cidades que não aparecem nos jornais de alcance nacional – não tem folga de Capital de Giro e pouco acesso a crédito.
Para as Formigas, o “Fica em Casa” acabou com a comida.
O BNDES divulgou uma linha de crédito de R$ 2 bilhões para Prestadores de Serviços de Saúde cujas Receitas Brutas sejam superiores a R$ 300 milhões ano.
Certamente não atende a imensa maioria das formigas trabalhadoras espalhadas pelo Brasil.
- Ninguém ainda sabe (em junho de 2020) a evolução – aumento ou diminuição – da contaminação com SARS COV 2 e agravos da COVID 19 em cada cidade.
Nem nas cidades com “quarentenas inteligentes”.
Receita cai, custo não: EBITDA para baixo, caixa curto, Bancos para cima
Centenas de Hospitais e Centros de Diagnósticos perdem valor e ficam baratos.
Gigantes da Saúde comprarão.
Gigantes e Formigas usam barcos e frotas com tamanhos bem diferentes; mas o tsunami é para todos.
O fato é que os preços dos negócios e ativos no Formigueiro caíram.
Os maioria dos Médicos – mais de 400 mil ativos no Brasil – recebe por “produção”, que caiu.
Não são operários e não podem absolutamente ser classificados como “vulneráveis” mas a “riqueza” da maioria se mede nas Concessionárias de Automóvel, Viagens e Casas de Vinhos.
Eles estão pressionados, de um lado pelo medo da morte no combate a COVID 19 e de outro pela escassez pandêmica.
E a remuneração do outros 5 milhões de profissionais que atuam na Saúde, nossos heróis, como Enfermagem, Recepcionistas, Técnicos de Limpeza etc?
Nós os amamos, batemos palmas, mas não há dinheiro para aumentar salários.
E alguns Hospitais, mesmo os que pareciam imunes a crise, reduziram salários.
Centros de Diagnóstico estão trabalhando com um olho no cardume – do movimento de clientes – e outro no gato das Operadoras de Planos e Seguradoras.
Clientes querem diagnósticos de COVID 19, mas, fugidos dos médicos, pronto socorros e hospitais, diminuíram drasticamente a receita dos outros exames.
Mas prevemos que a recuperação do setor tende a ser mais rápida que a dos Hospitais.
- SUS
A pandemia recolocou o SUS – Sistema Único de Saúde – nas Mídias Sociais e manchetes.
E é bom que fique, pois apesar de seu padrão – de gestão e funcionamento – heterogêneo, o Sistema nunca foi tão necessário quanto AGORA e será ainda mais no futuro próximo: recessão e desemprego despejarão pacientes migrantes da seca da Medicina Suplementar.
Há críticas e defesas apaixonadas do Sistema que deveria, no sonho da sua criação, prover atendimento a 100% da população brasileira para 100% dos problemas de saúde.
O Orçamento de Governo são menores do que os R$ 273.300.000.000,00
R$ 118.100.000.000,00
R$ 70.300.000.000,00
R$ 84.900.000.000,00
O dinheiro do SUS, imposto pago pelos cidadãos, é uma das contas do Orçamento das 3 esferas de Governo para a Saúde: R$ 294 bilhões do Orçamento Total da Saúde, 45% ficam no Governo Federal, 25% vão para Gestão de Secretários de Estados e 30% para Municípios.
A Gestão descentralizada facilita a fiscalização das comunidades sobre o destino e uso do dinheiro.
No meio da Pandemia e do Pandemônio, houve e há muita pressão dos Governos Estaduais e Municipais por recursos ADICIONAIS aos R$ 294 bilhões.
Não há pressão equivalente por EXCELÊNCIA na Gestão.
Os que mais sofreram na Pandemia moram em Estados e Cidades com estruturas crônica e historicamente ineficientes e insuficientes, ou ambos; legados de Governos de todas as cores políticas.
São Paulo, Estado mais próspero do Brasil, tem Estrutura de Atendimento melhor que a média brasileira; e gestão de Redes que combina Contratos com Filantrópicas – registradas como Organizações Sociais – com Administração Direta.
São Paulo não poupou recursos para implantar Hospitais de Campanha e Comprar Equipamentos
Em junho, quando escrevo, a Rede ainda não estava saturada.
As medidas de contenção até a “quarentena inteligente” (prevista para metade de junho de 2020) talvez tenham salvado vidas. Alguns Cientistas Sociais, Economistas e Epidemiologistas tem se atrevido a projetar quantas vão ser perdidas pela recessão e desemprego.
Só saberemos os impactos nos próximos meses e anos.
- Gastos e Impostos
Em 2019, os mais ponderados coçavam a cabeça com R$ 125 bilhões de déficit no Orçamento Federal e 80% na relação DÍVIDA/PIB.
Em maio de 2020, no Pandemônio da Pandemia, R$ 600 bilhões de déficit e 100% na relação DÍVIDA/PIB não parecem mais provocar urticária.
A maior parte da conta da Pandemia – via Impostos e perda de empregos – será paga pelos mais vulneráveis.
E na conta estarão incluídos pequenos e grandes roubos que o Regime Emergencial de Contratações, aprovado em tempo recorde pelo Legislativo, pode acelerar.
Só saberemos quanto em algum tempo.
Enquanto isso, os Congressistas não reduziram privilégios que criaram para si e outros poderes da República, Empresários e Trabalhadores de 1ª Classe da Administração Pública.
- Gripe na Saúde e Pneumonia na Cadeia de Fornecimento
Atuando há mais de 30 anos nas áreas de Consultoria de Negócios e Operações, Design, Construção e Gestão de Empreendimentos de Saúde, posso opinar sobre impactos da Pandemia na Cadeia de Valor
E desenhar cenários tão precisos (e talvez errados) quanto economistas e oráculos
Você formará sua opinião.
- No início da Pandemia, vendas ficaram aquecidas para Fornecedores de Equipamentos de Suporte a Vida, Equipamentos de Proteção Individual, Monitores Multiparâmetros, Camas e Materiais de Limpeza e Papel.
Fabricantes de Aventais e itens de Materiais Não Tecidos descartáveis também venderam mais.
- A tendência da venda de Medicamentos e OPME no curto prazo é nebulosa.
No começo da Pandemia, as vendas aumentaram para reforço de estoque.
Mas há desconforto nos Conselhos de Administração dos Gigantes da Indústria Farmacêutica pela queda de vendas de medicamentos para OUTRAS patologias, face a fuga dos pacientes.
Dinheiro de fomento a Pesquisa pro Testes e Vacina, captado junto a Governos de todo o Mundo, não muda os balanços do trimestre.
Empresas sobreviventes no Pandemônio já estão sendo gentilmente convidadas a pagar a conta dos Testes de Contaminação pelo SARS COV2 como uma das táticas de retomada do trabalho no Novo Normal.
Aqui há grandes oportunidades de Receitas e Resultados para Empresas de Diagnóstico e Indústria Farmacêutica. São quase 100 milhões de trabalhadores e quase 35 milhões de trabalhadores formais querendo fazer testes…
A corrida do século é pela Vacina.
Em junho de 2020, quando escrevo, 10 estão em testes clínicos.
Quanto você pagaria, hoje, por uma vacina? Imaginando o mercado de 7,7 bilhões de consumidores, as projeções de alguns Conselhos de Administração chegam a quase ½ Trilhão de US$.
Os Distribuidores de Medicamentos e OPME estão com as barbas de molho pois a Indústria já vinha reestruturando suas ações comerciais para ampliar Vendas Diretas aos Hospitais.
No aperto de caixa, todo mundo vai correr atrás de desintermediação inteligente.
Estão ansiosas pela retomada do agendamento cirúrgico.
Por outro lado, em muitos casos, a procrastinação agravará problemas de saúde dos pacientes e os tickets médios – de pacotes de OPME por cirurgia – crescerão.
As empresas que atuam na cadeia de valor da Hotelaria e Facilities para Saúde vivem paradoxos.
Há Ganhadores, com aumento de demanda de Serviços em Limpeza, Transporte, Suporte de TIC – Tecnologias de Informação e Comunicação -, Serviços de Manutenção de Equipamentos Médicos e Infra Predial, Segurança, Reciclagem e Tratamento de Resíduos Descartáveis.
Mas os preços continuam pressionados pois os hospitais estão com caixa apertado.
Há também crescimento nas exigências de tempo de resposta e SLA – Service Level Agreement – em geral.
Serviços de Manutenção, por exemplo, vão ser pressionados para migrar do modelo atual (praticamente “cessão de mão de obra” e preço por técnico) para Contratos com “Tempo de Resposta” e “Disponibilidade ampliada dos meios de produção”, independentemente do número de técnicos.
O problema é que pouca gente mede DISPONIBILIDADE OPERACIONAL x MANUTENÇÃO.
A Indústria de Equipamentos Médicos acelerará a produção de itens com tecnologias de auto-diagnóstico, sonhando com a Internet das Coisas; este movimento afetará a lógica dos negócios de manutenção.
Há Perdedores, notadamente os que tem Contratos de “custo fixo + despesa variável de produção”, nos quais menos pacientes representam menos receita.
Fornecedores de Nutrição e Processamento de Roupas são dois exemplos.
Há Forasteiros a Saúde, ganhadores de ocasião.
Alguns poucos Montadores de Eventos, que sangravam – e a maioria ainda sangra – nos pavilhões vazios dos cancelamentos de feiras e exposições, acabaram contratados para execução de abrigos efêmeros de Hospitais de Campanha.
Entregaram algumas unidades em prazos “chineses”, festejadamente curtos; e com a baixa qualidade que alguns artigos chineses tinham há alguns anos.
Mas o ciclo de contratações parece estar encerrado ou no fim.
E os Tribunais de Conta ainda não estão trabalhando nas avaliações de Contratos.
- E qual foi o impacto da Pandemia nas Empresas de Design, Arquitetura, Projetos de Engenharia e Construtoras?
Açodadas por prazos impossíveis, as Empresas que têm demanda trabalham contra o tempo.
Empresas e Profissionais que atuavam nos setores derrubados pelo Pandemônio, tem caçado oportunidades de Projetos e Obras na Saúde.
Esta é a 2ª recessão em menos de 5 anos.
Quando a concorrência aumenta, os preços caem.
Compradores de Organizações de Saúde de todos os portes estão batendo metas na aquisição de Projetos e Obras.
O futuro mostrará o impacto da avalanche de oferta e preços mais baixos na qualidade.
- Legado
A Pandemia causou um Pandemônio. Mas como qualquer evento desta relevância, cria oportunidades de transformação para além da maciça e veloz adesão dos terráqueos aos meios digitais de comunicação.
1º Legado – Hospitais de Campanha e seus Equipamentos
Muitos Abrigos Efêmeros serviram para proteger parte dos 14 milhões de moradores de rua e de comunidades superlotadas das regiões metropolitanas.
As poucas Unidades perenes vão se integrar as Redes de Atendimento das Secretarias de Saúde bem geridas.
A impressionante quantidade de Equipamentos comprados emergencialmente poderá ser usada nas Organizações que atendem o SUS após a passagem de todas as ondas da COVID 19.
Os gestores públicos mais hábeis e resilientes vencerão barreiras burocráticas para usar os mais de 15 mil Itens, incluindo Respiradores, Monitores, Camas, Mobiliário.
2º Legado – Chance de melhorias na Legislação e sua aplicação
Normas, Leis, Práticas de Compras de Governo e Aprovação de Projetos e Licenças de Equipamentos podem evoluir com os aprendizados da Pandemia.
Compras de Governo
A Legislação e a ação de alguns agentes públicos já NÃO contribuíam para transparência e eficiência das Contratações de Governo.
Propostas de mudanças na Legislação estão há anos atoladas em camadas de interesses no Congresso.
O Regime de Compras Emergenciais dá agilidade, mas foi e é um campo fértil para velhas práticas que a maioria dos Brasileiros não quer mais; em ano de eleições Municipais, pode virar uma grande tentação para os fracos de caráter.
Como a CONSTRUÇÃO e FORNECIMENTO de EQUIPAMENTOS e MEDICAMENTOS são setores tristemente protagonistas na corrupção e já entramos na recessão e no inverno, algumas empresas terão que orar muito para não cair em tentação.
Líderes que já caíram, dormirão mal nos próximos meses, sobressaltados com as apurações dos Tribunais de Contas e Ministério Público. E com as prováveis visitas da Federal.
Estranhamente, investigações de desvios e tentações não se tem dado muita atenção
A Pandemia pegou a RDC 50 no meio de uma revisão.
A nova redação da RDC provocaria – se aplicada – o fechamento de um número significativo de unidades de Saúde, incluindo UTIs, face a NÃO CONFORMIDADES.
As principais mudanças do texto da RDC e das práticas de gestão de homologação de empreendimento de saúde poderiam ser na direção de um Novo Normal com:
- Aumento de exigências relacionadas à segurança das edificações, com recomendação de endurecimento de Penalidades e Multas para os protagonistas da cadeia de projeto, construção e operação no caso de desrespeito à legislação.
- Prazos realistas para adaptação das Organizações aos padrões mais exigentes de segurança
- Fluxos mais ágeis de homologação de projetos.
Em alguns Estados, o prazo de homologação se mede em anos. Indeferimentos sem justificativas diminuem filas e pilhas de processos, garantindo a aparência da eficiência das análises.
E há agentes de fiscalização que atuam como professores – pagos pelos nossos impostos – nas orientações aos projetistas. Parece nobre; mas enquanto ensinam, os pacientes esperam.
Se a homologação de hospitais de campanha dependesse dos prazos e rituais atuais, em alguns lugares atenderíamos a COVID 22.
- Correção de Desvios de Função.
SE revíssemos o fluxo de homologação e penalidades para os Protagonistas da cadeia de Arquitetura, Engenharia de Projetos, Construção e Operação / Gestão -, devolveríamos milhares de horas de excelentes profissionais – que honram o funcionalismo público – as funções e locais onde são mais tão úteis: na fiscalização das operações das Redes de Atendimento.
A revisão do texto da RDC e as regulamentações para aplicação nos Estados e Municípios é uma oportunidade de reduzir desperdícios de tempo e obstáculos para melhorias da rede; e para responsabilizar mais justa e eficazmente os protagonistas.
Além disso, as Normas atuais preveem menos de um respirador por leito de UTI, critério de dimensionamento que não atenderia a demanda dos números de pacientes da COVID 19.
Os critérios, certamente, mudarão.
E o ambiente de comoção é propício ao exagero.
3º Legado – Não conhecemos o parque instalado.
A Pandemia escancarou um fato que todos os Líderes já conheciam: as informações do CNES – CADASTRO NACIONAL de ESTABELECIMENTOS de SAÚDE – não são confiáveis.
As causas das imprecisões e desinformação são históricas.
O impressionante é que continuamos fazendo políticas públicas e orçamentos de investimentos e custeio das organizações privadas sem precisão de informações.
É urgente melhorar a qualidade das informações do CADASTRO NACIONAL de ESTABELECIMENTOS de SÁUDE.
Isto pode ser feito com base em duas ações:
- Aplicar regras já existentes para penalizar Gestores pelas falhas e ou omissões de informações
- Executar o que chamo de “CENSO ETOS – de Espaços, Tecnologias e Operações das Organizações de Saúde “– como instrumento de Política de Gestão de Saúde.
É possível engajar Organizações de Saúde, Escolas Técnicas, Fornecedores de Software e Empresas de Design, Construção e Operação neste esforço e financiá-lo com poucos recursos públicos e privados.
Como não há um CENSO de ESPAÇOS, TECNOLOGIAS e OPERAÇÕES de Saúde, não há informações precisas sobre quantidade de edifícios em conformidade ou não com a RDC; nem tampouco há informações sobre os volumes de investimentos para recuperação e adaptações a RDC revista.
O CENSO permitiria projetar custos de investimento para renovação do parque tecnológico
Permitiria saber afinal se são ou não são 67 milhões de m2 de edifícios de saúde (minha projeção, boa como qualquer uma)?
Técnicos – de excelente nível – que prepararam a Nova redação e Representantes de Organizações de Saúde que dialogaram sobre os textos da Nova RDC NÃO parecem ter feito nem publicado previsões sobre estes Investimentos.
A L+M, com seu Banco de Dados constantemente atualizado ao longo de mais de 30 anos, projeta necessidade de R$ 125 bilhões de investimentos, somente em Obras de Reformas, sendo 65% nos Hospitais e 35% nos edifícios da Atenção Básica
Sem construir um único m2 de aumento de capacidade instalada.
A Sociedade terá que fazer escolhas duras para financiar estes investimentos em poucos anos.
4º Legado – Construção Racionalizada volta ao Palco
A Pandemia exigiu construções rápidas.
Mas, aparentemente, a maioria dos Hospitais de Campanha não foi detalhadamente projetada.
Alguns não foram concebidos para resistir as chuvas do próximo verão.
Alguns foram, mas mal construídos, não resistirão.
Poucos foram feitos para durar com soluções menos efêmeras de design e construção racionalizada.
Limando camadas de marketing, a Pandemia ressuscitou temas festejados por Projetistas e Construtores entusiastas de obras limpas, mais rápidas e custos mais controlados.
Construções Modulares, Painéis Pré-Fabricados e Previsibilidade de Custos voltarão a moda.
A racionalização do processo construtivo começa nos projetos.
Soluções aceleradoras de racionalização construtiva existem desde 1950.
O Sistema CUBOS da L+M e o Sistema CUBIN, produzido pela SCA sob Licença da L+M são usadas desde 2015.
5º Legado – Adoramos a Inovação; só que não…
Na Guerra, a exigência de registro para importação de equipamentos de suporte a vida foi flexibilizada.
Mas a invenção e licenciamento para produção de novos equipamentos atolou na burocracia
Empresas de grande reputação e Universidades aliaram-se, mas tiveram e tem tido dificuldade para aprovar junto a ANVISA o design e produção de equipamentos de suporte a vida.
A Pandemia mostrou que os Orgãos de Governo não estão articulados para agilidade destas licenças.
Do jeito que está, há imensa distância entre discurso e prática de fomento a inovação.
E estas dificuldades dão margem a questionamentos sobre a isenção nas análises de soluções que não sejam dos principais Fornecedores já estabelecidos.
Quando o Novo Normal vier, os Gestores da Saúde terão que regularizar equipamentos adquiridos na Pandemia de uma forma que ainda não está regulamentada.
“ANISTIA” ampla geral e irrestrita da ANVISA é uma opção para permitir a continuidade operacional dos Hospitais.
6º Legado – Valorização de Eficiência Sistêmica
Apesar dos esforços individuais e da boa vontade de gente muito boa, ocorreram e estão ocorrendo desperdícios intoleráveis que ficaram mais evidentes na implantação dos Hospitais de Campanha: rapidez na compra emergencial das montagens e de equipamentos de suporte a vida, dessincronizada do cronograma de recrutamento e capacitação de pessoal; e da aquisição de medicamentos do 1º estoque.
Distanciamento pessoal e arejamento são recomendações da época de Florence Nightingale contra os “miasmas” que amedrontavam os Hospitais da Guerra da Crimeia; nossos Hospitais de Campanha aproximaram demais as camas e os layouts evaporaram as janelas e a ventilação cruzada.
Acidentes elétricos graves e instalações temerárias de gases medicinais e ar condicionado viralizaram em algumas montagens, aparentemente, sem planejamento e controle.
A principal causa dos desperdícios – e dos seus impactos nos custos que pagaremos – é a falta de visão e ação sistêmica na implantação de empreendimentos de saúde.
Os Cubos que compõe o Prédio são a parte mais visível, mas são um dos Ingredientes da Eficiência Sistêmica.
Uma palavra que parece nome de biscoito napolitano ajuda a lembrar de TODOS os ingredientes que fazem tudo funcionar: PeProCuTe.
“Pe” de Pessoas, “Pro” de Processos, “Cu” de Cubos componentes do Edifício e “Te” de Tecnologias.
“Pe” – Pessoas.
Um líder sábio planta um “Pé” de Pessoas Feras para resolver o problema de cada paciente, cada qual com genoma e alma únicos e no tempo certo.
E cuida da comunicação, um dos principais dilemas contemporâneos.
“Pro” – Processos
Processos, aos milhares, escondem-se no agendamento, exames, cirurgias, internações, fornecimento de medicamentos, dietas, roupas, material esterilizado etc.
Gorduras e coágulos entopem os processos, como anomalias que aumentam riscos, custos, tempos de atendimento e afetam a “experiência”. LEAN 5.0 permite a visualização revascularizar o sistema e
“Cu” – Cubos componentes do Prédio.
As principais serventias do Prédio, com todos os seus componentes, é a) acolher o usuário sem estressar seu metabolismo e b) facilitar a fluidez aerodinâmica de almas e corpos nos caminhos e no uso de cada Cubo.
“Te” de Tecnologias
Equipamentos Médicos, de Infra Predial e Tecnologias de Informação e Comunicação podem acelerar a eficiência dos processos e melhorar a experiência de uso dos edifícios. Um bom líder escolherá sabiamente, sem modismos, tecnologias adequadas a sua Organização.
7º Legado – Solidariedade, Céu Azul, Ar Puro, Novos Prédios
Além dos impressionantes R$ 5 bilhões de doações de pessoas e empresas muito ricas e generosas, há um movimento tão ou mais alentador da esperança num Novo e Melhor Normal: a doação das formigas trabalhadeiras.
A régua da Solidariedade pode ser medida pelas doações dos que tem menos.
Quem compartilha o pouco que tem mostra altruísmo numa dimensão de transcendência.
O ar das metrópoles ficou limpo.
A escara da Camada de Ozônio cicatrizou, momentaneamente.
Ganhamos uma nova chance para repensar a matriz de energia em todo o Planeta.
E os impactos da Pandemia nos Edifícios? Nas casas, locais para trabalhar, prédios para saúde…
Isto é assunto para outro artigo; ou livro.
Finalmente, por quanto tempo …?
Quando uma Vacina acabará com esta Pandemia Pandemônio Porcaria?
Essas respostas valem bilhões que estão nos Bancos e no caixa dos Gigantes, mesmo os endividados.
Só estaremos livres dos efeitos do SARS COV 2, Mestre dos Disfarces, quando a vacina chegar.
Até lá, criteriosamente – espero – desenharemos e incorporaremos cuidados de higiene pessoal e protocolos para convivência que não eram “normais”.
Nos próximos meses, os serviços de saúde trabalharão mais para tirar o atraso do represamento, reencontrando o caminho da convivência segura entre pacientes de infectocontagiosas e “os outros”.
Convivência que sempre fez parte da natureza essencial das organizações de saúde.
Eficiência Sistêmica e os ingredientes que fazem tudo funcionar são essenciais no Novo Normal para as Organizações de Saúde continuarem válidas, atendendo, com segurança, pacientes ricos e pobres, com ou sem COVID 19, nas jornadas diárias de esperança de viver no Melhor Estado Possível de Bem Estar.
A vacina chegará. Até lá, lave as mãos e consuma PeProCuTe; não engorda e faz bem.
FIM