Pequenas Empresas & Grandes Problemas

É muito fácil encontrarmos conteúdo sobre Gestão Empresarial. As faculdades, os MBAs, livros, blogs e redes sociais estão repletos de textos, artigos, teorias e diversos materiais sobre o tema.

O assunto torna-se até repetitivo: “gerir pessoas”, “engajar colaboradores”, “administrar riscos”, “inovar em seu mercado”, “criar indicadores”, “melhorar a comunicação”, “contrate lento, demita rápido”, “diversificar os produtos”, etc, são como mantras que ressoam nos ouvidos de todo empreendedor e empresário.

Não nego que sou um entusiasta do assunto e acompanho diariamente os principais textos sobre o tema.

Porém o que me chama a atenção é que grande parte destas “fórmulas”, dizem respeito única e exclusivamente a médias e grandes empresas. É raríssimo encontrarmos conteúdo de qualidade para pequenas empresas. O que é até um tanto quanto estranho, pois a prosperidade de um país advém de seus pequenos e microempresários. Digo isso por um único motivo: será que cabem quantas “AMBEV”, quantas “PETROBRAS”, quantas “FORD”, em um país? No fim das contas, os grandes geradores de emprego são as pequenas empresas, que ocupam a maior parte das salas comerciais que se proliferaram aos montes nos últimos anos.

Estima-se que 99% dos CNPJs brasileiros são de micro, pequenas e médias empresas, que empregam 70% da força de trabalho e respondem por 20 % do PIB (fonte: FIA Busines School )

Desta forma, o investimento no aperfeiçoamento empresarial, principalmente das pessoas, deve ser constante; observando que em termos de pequenas e médias empresas, seus dirigentes são os principais mentores e implementadores das estratégias.

Assim, a elevação dos padrões internos de competência é fundamentalmente influenciada pela capacitação desses dirigentes.

Não é à toa que junto com os atuais 14 milhões de desempregados brasileiros (lembrando que desempregado é “quem procura emprego”, existem mais 20 milhões de “desocupados” que não entram no índice e também não procuram emprego), existem inúmeros prédios comerciais com incríveis 80% de ociosidade.

Saindo um pouco dos repetitivos (e corretíssimos) argumentos de: “carga tributária elevada”, “burocracia sem fim”, “infraestrutura precária”, gostaria de mencionar aqui outras dificuldades que o pequeno empresário lida diariamente.

Muitos pensam que montar um negócio é o fim dos seus problemas. Mas, para a grande maioria, é apenas o princípio de gigantescos problemas.

Para começar, todos vêem o empresário como um enorme Cifrão ambulante. Sejam os funcionários, sejam os empresários da sala comercial ao lado, seja o dono do restaurante onde almoça, sejam os “amigos” ou sejam os prestadores de serviço, ninguém parece sequer suspeitar dos problemas que uma pequena empresa enfrenta.

O pequeno empresário vive na berlinda, passando dificuldades que poucos suspeitam que ele possua.

Capital de giro é algo extremamente raro neste meio. Todos os bancos anunciam, divulgam, mas nenhum de fato oferta este capital. Quer saber se estou mentindo? Pegue uma agência qualquer, de um banco qualquer, em um local qualquer. Pergunte quantos gerentes existem para Pessoa Física. Repita a pergunta para Pessoa Jurídica. Aposto que a resposta para a 2.a pergunta é 1. Na maioria das agências existe 1 gerente para PJ. A explicação: é muito mais fácil e lucrativo emprestar dinheiro para pessoa física. Não é à toa que existe Crédito Consignado em Folha (seu dinheiro é retido na fonte). E o empreendedor e empresário não tem crédito, afinal, ele é o responsável pela folha.

Além de todas as questões financeiras expostas acima, não tenho dúvidas em afirmar que os micro e pequenos empresários são a maior escola deste país. São eles que ensinam, capacitam e treinam toda a força de trabalho. E muitas vezes, após todo aprendizado, o pequeno empresário não possui receita suficiente para “reter os talentos” que ele mesmo criou e despertou, que acabam migrando para as grandes corporações. Muitas vezes, diga-se de passagem, os talentos migram sem treinar ninguém para o lugar (isso quando não largam a mesa e simplesmente desaparecem – até voltarem para receber os “direitos”). Em uma conta simples e imprecisa, uma empresa com 10 funcionários, ao perder 1, perde 10 % de seu pessoal. Isso é muita coisa para uma pequena empresa.

Ser um pequeno empresário no Brasil é ser um Herói.

Precisamos conscientizar a todos que quem move o país são estes heróis. E se não houverem estímulos, o país vai desandar cada dia mais (repercutindo em todas as classes). Os trabalhadores ficarão mais desempregados, as grandes empresas não terão a “escola” dos pequenos empresários para ensinar seus talentos e as salas comerciais ficarão cada dia mais vazias…

 

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