“Pesquisa científica: a senha para o conhecimento e o desenvolvimento” por Giovanni Guido Cerri

InovaHC abre o o In.cube – seu programa de incentivo à inovação – a equipes multidisciplinares de toda a comunidade USP na edição deste ano

Os produtos da ciência são bastante conhecidos pelas pessoas. Os que mais têm peso no dia a dia são os avanços tecnológicos, em particular os produtos de consumo mais à mão, como celulares com conexão à internet, notebooks e tablets. As próprias redes sociais são fruto do avanço científico, embora a associação talvez não seja tão imediata. Os avanços na medicina são pura ciência – das tomografias computadorizadas até as quimioterapias, das cirurgias realizadas por robôs e a telemedicina, que se consolidou com a pandemia.

Todos estes (e a lista iria longe) são exemplos de aplicações de conhecimento. São lastreados por avanços a que se chegou apenas por meio de muita pesquisa: cientistas, engenheiros, mesmo estudantes, todos focados em seguir uma hipótese, testá-la, observar desdobramentos, construir protótipos. A pesquisa científica não é (ou nem sempre é, pelo menos) algo a que se dará imediata aplicação comercial. Busca-se o conhecimento porque é necessário conhecer: quando se encontra um limite ao que sabemos, a vontade de saber o que há além se impõe. Todo o conhecimento acumulado até um certo tempo não bastou para vencer um determinado obstáculo. Superá-lo está do lado de lá do que já conhecemos – e transpor essa linha é o objetivo da pesquisa científica.

A necessidade por vezes também se impõe: um problema hoje insolúvel pode estar a apenas alguns anos de pesquisa no futuro – dinâmica de todos os problemas que já se apresentaram à humanidade até hoje. E vivemos o tempo em que os meios digitais se incorporaram ao nosso modo de vida: muitas coisas passaram a ser feitas de um modo nunca tentado antes – de pagamentos em transações comerciais rotineiras aos já mencionados atendimentos médicos, em que nem é preciso estar diante do especialista (exceto para procedimentos específicos).

Pesquisa científica, no entanto, depende de investimento, incentivo. Mais de 60% da produção e pesquisa cientifica global se concentra atualmente em Estados Unidos e China, segundo dados da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura). Na contramão, diversos países destinam valores a esse fim que rondam o 1% de seus PIBs (Produto Interno Bruto). No Brasil, o investimento público em ciência e tecnologia viveu uma fase de ascensão que encontrou um pico em 2013 e desde então vem encolhendo – o recuo, de então até 2020 chegava a 37%, segundo dados do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Dados levantados pela Câmara dos Deputados, por sua vez, apontam que, nos sete anos até 2021, a pesquisa científica e tecnológica perdeu cerca de R$ 83 bilhões.

A necessidade de se avançar em conhecimento científico, no entanto, não diminui em nada. Ao contrário: é cada vez mais evidente que apenas o investimento em pesquisa poderá adequar a economia e as condições de vida no país a patamares que o tornem competitivo no cenário global. A pandemia, por si só, já mostrou o quanto pode fazer falta dispor de conhecimento que permita fazer frente a doenças infecciosas.

Há, no entanto, iniciativas no país para fazer com que os talentos de que o Brasil inegavelmente dispõe encontrem espaço para se revelar. O Hospital das Clínicas da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) realiza o In.cube – programa de incentivo à inovação de pesquisadores, colaboradores e profissionais, que na edição deste ano, avançando em relação à anterior, será aberta a equipes multidisciplinares de toda a comunidade USP. O projeto busca impulsionar profissionais interessados em inovação e empreendedorismo, de importância incontestável para o desenvolvimento do Brasil. O projeto do HC pretende ampliar as possibilidades para aqueles que dedicam uma ampla parcela de suas vidas a pesquisar, desenvolver ideias ou produtos e, no fim, agregar valor para a sociedade como um todo.

Apesar de todos os obstáculos, investir em pesquisa é algo de abre portas e atrai investimentos, impulsiona a economia e, mas que tudo isso, faz da sociedade uma comunidade unida em nome do desenvolvimento. O InovaHC é uma manifestação da vontade de colocar o Brasil cada vez mais na rota da pesquisa científica.

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