César Eduardo Fernandes, da AMB, ressalta o crescente número de profissionais acometidos e afastado pela Covid-19
Profissionais da linha de frente da assistência foram duramente impactados pela variante Ômicron da Covid-19. Essa é a conclusão de uma pesquisa inédita realizada pela Associação Médica Brasileira (AMB), em parceria com a Associação Paulista de Medicina (APM), e divulgada neste mês, sobre a percepção dos médicos frente à crise pandêmica.
Dos 3.517 profissionais de Medicina brasileiro que responderam ao questionário, entre os dias 21 e 31 de janeiro, 87,3% relatam que eles ou outros médicos do ambiente de trabalho foram acometidos pela doença nos últimos dois meses.
Segundo especialistas, esse cenário é resultado do aumento de pacientes contaminados pelo alto poder de transmissão da nova variante da Covid-19, se comparada as anteriores. Além disso, o período do ano analisado é marcado ainda pelos resquícios de contaminação adquiridos em aglomerações nas festividades da virada do ano.
Com isso, o número de profissionais acometidos pela doença e afastados também disparou, causando uma defasagem em massa de diversas equipes de saúde no Brasil. Para o presidente da AMB, César Eduardo Fernandes, tanto em solo nacional como no exterior, não há profissionais que possam suprir as necessidades em tempos de pandemia.
“Quando se desfalca, por exemplo, uma unidade básica de saúde, não é possível buscar reposição em outra, pois, em geral, todas trabalham em condições semelhantes de ausência de profissionais em seus quadros”, afirma.
Dessa forma, o desafio fica para a gestão das instituições que precisa organizar a equipe remanescente de forma a contemplar as demandas, embora o conjunto de colaboradores esteja, em geral, estafado e sobrecarregado.
“Isso repercute nas relações mais simples até a economia do país, já que muitas empresas se veem obrigadas a segurar as demandas pelo quadro reduzido de colaboradores e cortes no regime presencial, resultando em dificuldades e de equipes.”
Em batalha
Na tentativa de diminuir os danos causados pelos afastamentos dos profissionais de Saúde, em janeiro de 2022, o Ministério da Saúde determinou uma nova orientação de isolamento para quem contrair a Covid-19. Em comparação à portaria de 2020, o que mudou diz respeito ao tempo de afastamento de empregados contaminados ou suspeitos.
Na portaria de 2020 ficou estabelecido o afastamento por 14 dias. Já a nova portaria interministerial estabelece a redução do afastamento do ambiente de trabalho para 10 dias, podendo ser reduzido até para sete dias.
“Particularmente, compreendo que o mais adequado seria o cumprimento de ao menos dez dias de afastamento. Não temos ainda como tratar a pessoa contaminada visando abortar a evolução da doença.”
No entanto, Fernandes crê que o autoteste, recém-aprovado no Brasil, pode ajudar a identificar as pessoas contaminadas, possibilitando que elas sejam temporariamente afastadas do convívio profissional e familiar. “É, atualmente, um caminho viável para aumentar o número de testados, identificar acometidos, e assim, minimizar o contágio.”
E ainda complementa: “Alguns “tratamentos” preconizados no passado, os chamados kit-covid, são ineficazes, inseguros e não devem ser usados.”
Segundo Fernandes, o único instrumento efetivo que a Associação defende como ferramenta para minimizar a situação da Saúde ainda no primeiro semestre é a vacinação em massa.
“Felizmente, o processo de aplicação das vacinas tem avançado, incluindo com as crianças, a despeito do Ministério da Saúde que tem feito o desserviço de atrasar a imunização. Não há outra possibilidade a não ser a vacinação.”
Atuação da AMB
Diante desse caos vividos na Saúde, a AMB tem atuado de modo a reverter os dados causados pela doença. A Associação tem monitorado de perto todo o processo da Covid-19, com o objetivo de fornecer informações para identificação dos profissionais da saúde sobre condutas e os melhores recursos diagnósticos.
“Ressaltamos também a imperiosidade da manutenção dos cuidados básicos em pandemia por uma doença respiratória, como é o caso da Covid-19. Destacamos seguidamente, por exemplo, a importância do uso correto das máscaras, da higiene das mãos, do distanciamento social, de evitar aglomerações.”
Segundo o presidente, o intuito é ser uma voz de alerta a todos, emitindo vários boletins de esclarecimento aos brasileiros. “É essencial ressaltar que boa parte da solução da pandemia está nas mãos da população, então, devemos orientar e conscientizar a todos.”
Além disso, Fernandes ressalta a participação dos governantes como responsáveis pela entrega de informação correta e de estimular a vacinação. “A AMB permanecerá monitorando e se posicionando sempre com base na ciência, na defesa da saúde e da vida.”