O conceito tem se destacado em primeiro plano nos fóruns e debates da área: Saúde Baseada em Valor. Significa levar em conta a experiência do paciente e o resultado do cuidado médico para ele. Prestar um serviço de qualidade, com justa alocação de recursos, evitando-se desperdícios. Equilibrar o desfecho clínico e o custo envolvido. Parece óbvio que todo tipo de assistência e promoção da saúde estivesse ancorada nesses pilares, certo?
Por mais evidente que pareça à primeira vista, sedimentar o caminho para que o atual sistema de saúde migre do modelo de pagamento por serviço realizado para o modelo baseado em valor descrito no primeiro parágrafo não é tarefa fácil. Por isso, o tema tem mobilizado todos os segmentos da saúde, dos gestores aos pagadores, passando pela cadeia produtiva e de distribuição.
A contínua elevação dos custos da Saúde tem exercido uma pressão que não deixa margem a outra opção: é necessário mudar paradigmas e reestruturar o atual sistema de saúde. O envelhecimento populacional, o aumento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis, a oferta de novas tecnologias médicas de alta precisão e questões de financiamento fazem parte desse quadro. No caso do Brasil, há ainda uma demanda não atendida de saúde básica e a imperiosa necessidade de atendê-la.
Como ampliar o acesso da população à assistência, disponibilizar tratamentos inovadores e, ao mesmo tempo, fazer uma gestão dos recursos que não promova um aumento desenfreado de gastos? A equação é intrincada e requer respostas rápidas, mas ponderadas, para que o sistema de saúde seja economicamente sustentável no médio e longo prazos.
O modelo de Saúde Baseada em Valor tem aquecido os debates e gerado alguns projetos-piloto pelo país, mas a solução é complexa. Para começar, não existe uma definição única de Saúde Baseada em Valor que se adapte a todas as realidades, situações e instituições.
Quando Michael Porter publicou o livro “Repensando a Saúde: Estratégias para Melhorar a Qualidade e Reduzir os Custos”, em 2006, sugeriu um caminho de transformação do cuidado baseado em seis elementos interligados: reorganizar as unidades de saúde em práticas integradas, medir resultados e custos para cada paciente, efetuar pagamentos por ciclos de cuidado, integrar os cuidados entre os serviços de saúde, expandir o acesso a serviços de excelência e, por fim, dispor de uma plataforma de tecnologia de informação que atue como facilitadora do processo.
No cenário descrito, o paciente assume um lugar de protagonista dos cuidados, como um paciente-cidadão. Passa a ter, como todos os outros elos da cadeia da saúde, corresponsabilidade pela manutenção e sustentabilidade do sistema de saúde como um todo.
Em um ambiente no qual os recursos para a assistência são finitos e escassos, a real dimensão de Saúde Baseada em Valor só será alcançada se tivermos também na ponta um paciente que se engaje nos tratamentos propostos, mude hábitos e cuide da prevenção e promoção da própria saúde. Além disso, que contribua para o uso racional de exames e procedimentos, monitorando repetições desnecessárias e desperdícios.
A transição para um novo sistema é inevitável e a sociedade como um todo precisa colaborar. Só assim conseguiremos alcançar um patamar mais elevado de cuidados e gestar um sistema de saúde que agregue valor para todos e para cada um de nós.
Este artigo, redigido por Fernando Silveira Fº, presidente-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Alta Tecnologia de Produtos para Saúde – ABIMED, foi publicado originalmente na edição 62 da revista Healthcare Management.