Durante a noite de premiação dos 100 Mais Influentes da Saúde 2025, um dos momentos mais aguardados do evento ganhou um brilho especial. Conduzido por Edmilson Caparelli, presidente do Grupo Mídia e da Federação Brasileira de Administradores Hospitalares (FBAH), o quadro Quem Realiza voltou a destacar histórias de personalidades que moldam o presente e redesenham o futuro da saúde brasileira.
Nesta edição, o convidado foi Fernando Silveira Filho, Presidente Executivo da ABIMED (Associação Brasileira da Indústria de Tecnologia para Saúde), uma das vozes mais influentes quando o assunto é inovação, competitividade industrial, políticas públicas e transformação tecnológica no setor.
Com mais de 30 anos de carreira no Brasil e no exterior, Fernando conduz desde 2019 um processo de modernização que reposicionou a ABIMED no ecossistema da saúde, ampliando conexões, reforçando a atuação institucional e fortalecendo o diálogo entre indústria, governo, academia e sociedade.
Logo no início da conversa, Fernando lembrou que, embora só tenha ingressado diretamente na saúde há 15 anos, o setor sempre esteve presente em sua vida: “Lá em casa a gente sempre teve saúde por perto”, contou, citando o pai, que atuou toda a vida na indústria farmacêutica, além de médicos na família. A aproximação definitiva veio de forma inesperada, quando uma oportunidade de turnaround o levou a assumir desafios que o manteriam no setor desde então.
Ao assumir a ABIMED, Fernando levou ao ambiente associativo um modelo de gestão empresarial, com processos, indicadores e governança estruturada. Mas, como destacou, foi a ampliação estratégica de conexões que impulsionou a representatividade da entidade.
“Nós procuramos estender a rede ou, como o pessoal gosta de dizer, o ecossistema de atuação de Abimed para muito além daquilo que as associações normalmente fazem”, afirmou. A entidade passou a atuar em todas as frentes que impactam o negócio: políticas públicas, relações institucionais, inovação, interoperabilidade, competitividade, sustentabilidade e troca global de conhecimento.
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Com associados majoritariamente multinacionais, a ABIMED se tornou também um ponto de convergência cultural e tecnológico. “O que a gente tem feito é isso, é procurar trabalhar todo o espectro de atividades que afetam o negócio. Saúde, eu costumo dizer, é uma moeda de duas faces. O lado emocional, cuidar das pessoas, mas do outro lado é um negócio. E como negócio a gente precisa atuar em todas as frentes”, disse Fernando. “Ela [a Associação] precisa ser multifacetada para poder realizar aquilo que é necessário e o que é certo, não o que é bom”.

Quando Caparelli perguntou qual tecnologia deve transformar a saúde brasileira, Fernando foi direto: Inteligência Artificial e interoperabilidade de dados.
Embora equipamentos médicos usem IA embarcada há mais de uma década, ele afirma que o setor ainda vive apenas o início dessa revolução. E aponta um alvo prioritário: a gestão. “O grande problema da saúde brasileira é a gestão. Dinheiro tem. Saber o que tem que fazer, todo mundo sabe. O problema é gestão”, observou.
A interoperabilidade, por sua vez, é vista como alicerce de um sistema mais eficiente: “Você poder trabalhar os dados dos pacientes de forma consolidada, com toda segurança, sem dúvida vai trazer muitos benefícios e vai começar a resgatar aquilo que a gente mais precisa que é a sustentabilidade econômica do setor”, completa Fernando, citando o trabalho de Ana Estela Haddad, Secretária de Informação e Saúde Digital do Brasil, presente no evento e reconhecida como Personalidade do Ano, honraria máxima da premiação dos 100 Mais Influentes da Saúde.
Ao discutir o impacto da IA no emprego, Fernando trouxe uma visão menos otimista que a frase, cada vez mais popular, de que “as pessoas não perderão seus empregos para IA, mas para quem souber usá-las melhor”.
Para ele, a Inteligência Artificial representa a primeira revolução tecnológica capaz de deslocar o ser humano do processo produtivo em larga escala. E recomenda a leitura de Nexus, de Yuval Harari, por sua reflexão sobre ética, sociedade e futuro do trabalho.
Questionado sobre o que define a liderança na saúde, Fernando reforçou o equilíbrio entre colaboração e responsabilidade.
“Saúde é meio que caminhar em gelo fino o tempo todo”, comentou. Segundo ele, a ABIMED adota uma postura não confrontativa, mas colaborativa, sempre baseada em fatos e na escuta ampla dos diversos atores do setor.
A transversalidade da tecnologia para saúde, presente da pré-concepção ao fim da vida, também reforça o compromisso ético e estratégico da entidade com a transformação sustentável do ecossistema.
Entre os episódios marcantes de sua carreira, o Presidente Executivo relembrou um caso em que, após liderar um ousado projeto, recomendou o fechamento completo da operação, decisão que poderia tê-lo levado ao desemprego, mas que acabou o conduzindo à sua primeira posição de CEO fora do Brasil.
“O que mais me caracterizou, acho que ao longo da minha vida foi não ter receio de tomar risco e reconhecer quando tá errado e fazer a correção”, resumiu o executivo, a respeito do aprendizado que extraiu dessa situação.
Para os jovens que começam a trilhar sua jornada, Fernando destaca três pilares:
- Aprendizado contínuo — estudar sempre e se reinventar.
- Gestão de risco — parte inseparável do trabalho executivo.
- Cercar-se de boas pessoas — colaboração como força estratégica.
E acrescenta um ponto irrefutável: inclusão e diversidade como motores de resultados sólidos. Ao final do quadro, Caparelli propôs o desafio: qual palavra resume o futuro da saúde no Brasil? Fernando não escolheu uma palavra, mas uma expressão: “saúde ultrapersonalizada”.
Ela representa um mundo em que prevenção, dados, IA, cuidado domiciliar, robótica e telessaúde convergem para criar linhas de cuidado sob medida, desde a pré-concepção até a longevidade ativa. E um cenário no qual hospitais, embora essenciais, deixam de ser sempre o centro do cuidado, tornando-se hubs de referência para uma assistência cada vez mais distribuída.
Quem realiza, transforma e inspira

O bate-papo com Fernando Silveira Filho reforça a proposta do Quem Realiza: dar luz às histórias que não apenas constroem resultados, mas movem pessoas, instituições e setores inteiros.
Ao final, Caparelli resumiu o sentimento que tomou conta da plateia: reconhecer quem realiza é reconhecer quem impulsiona o futuro; e o futuro da saúde brasileira, como mostrou Fernando, já começou a ser desenhado hoje.















