Evento organizado pelo Grupo Mídia contou a participação de Renato Sabbatini, Chao Lung Wen, Sandra Franco, Gustavo Kiatake, Deputada Federal Adriana Ventura, entre outros nomes
No dia 13 de maio aconteceu mais uma edição do Healthcare TALKS, organizado pelo Grupo Mídia. O tema do webnário foi “Transformação digital na Saúde: uma mudança social, cultural e humana” e contou com a presença de líderes e importantes nomes do setor.
O início dos conteúdos se deu com uma palestra do professor e pesquisador em informática biomédica, Renato Sabbatini, sobre “A Transformação da Saúde pela Revolução Digital”.
O professor comentou sobre a importância de conectar o mundo real a um novo mundo virtual através das redes globais. “Avanços inovadores e criativos estão crescendo exponencialmente e isso deve ser aproveitado, principalmente na área da saúde, com o que chamamos de Saúde 4.0.”
Segundo Sabbatini, a Saúde 4.0 tem o potencial de mudar radicalmente e em pouco tempo muitas práticas, estruturas, processos e valores de toda cadeira de prestação de serviços de saúde.
O professor também discutiu sobre como será a implementação da Saúde 5.0, concluindo que “a Inteligência Artificial substituirá cada vez mais o componente virtual dos sistemas ciberfísicos, construindo sistemas autônomos para monitoramento, aconselhamento, diagnósticos e terapia.”
O conceito de Saúde 5.0 envolve extenso uso de robôs autônomos e Sabbatini acredita que a implantação de peças microeletrônicas no corpo das pessoas será cada vez mais comum.
“Teremos um monitoramento contínuo em tempo real das funções orgânicas do paciente, com controle externo. Boa parte das ações diagnósticas e terapêuticas serão realizadas em cada pessoa, o que ainda vai resultar na redução drástica das estadias hospitalares.”
Rumos da Telemedicina
O Healthcare TALKS seguiu com uma round table com o tema “Telemedicina e Telessaúde para uma nova realidade”. Participaram do debate: Sandra Franco, advogada especializada em Direito Médico e da Saúde; da Deputada Federal Adriana Ventura; Raimundo Nonato Cardoso, diretor da área de saúde da Intersystems no Brasil; e professor Chao Lung Wen, Chefe da Disciplina de Telemedicina do Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina da USP.
A moderação do debate ficou a cargo de Carolina Carneiro, coordenadora de Educação, Ensino, Pesquisa e Inovação da SAS Brasil.
Ao analisar a situação tecnológica do Brasil, a deputada Adriana Ventura ressaltou os desafios de estarmos em um país continental extremamente desigual, onde mais de 15 mil Unidades Básicas de Saúde não têm acesso a internet. “Isso já mostra um empecilho na democratização da saúde.”
Adriana completa: “O meu sonho é conseguir melhorar a saúde brasileira e oferecer o acesso a um serviço de qualidade a todos, mas na prática temos vários entraves, sejam eles políticos, financeiros, tecnológicos ou de capacitação.”
O professor Chao Lung Wen apresentou uma visão diferente quanto à dependência da internet. “Para praticar a telemedicina, não precisamos exclusivamente de uma conectividade online. Existe a prática síncrona e a assíncrona, mas fomos condicionados a acreditar que só podemos realizar a primeira. A minha experiência na Amazônia com a telemedicina aconteceu em 2004. Nós não tínhamos os recursos que temos hoje, mas ainda assim foi um sucesso.”
Wen defende que a telemedicina precisa ter duas prioridades, sendo elas educação e logística. “Nós não estamos informando aos profissionais os métodos corretos de praticar a telessaúde e precisamos ter consciência de que a tecnologia não substituirá os serviços oferecidos atualmente, apenas vai agilizar a estruturação em rede e a organização da logística de resultados do paciente.”
Raimundo Nonato Cardoso, da Instersystems, explorou o conceito de valor da medicina e o relacionou ao desfecho clínico. “A base de tudo é saber que podemos oferecer o diagnóstico e tratamento corretos e eficazes no tempo certo para o paciente.”
Cardoso acrescentou que a importância da tecnologia envolve levar acessibilidade e benefícios para todos os cantos do país e entregar um cuidado responsável e da forma que precisarem.
A advogada Sandra Franco acredita que, apesar de 2020 ter sido um ano de muita discussão sobre telessaúde, ainda é necessário aprender muito com a definição de responsabilidades e pequenos detalhes.
“Precisamos estudar sobre como usar essa tecnologia a favor dos pacientes, mantendo a autonomia dos profissionais, a proteção de dados e as formas de utilizar esses dados de maneira ética, além de garantir a dignidade do ser humano.”
“Não é nada fácil, porque todo mundo quer dados e nem sempre existem argumentos que justificam essa necessidade. É necessário saber filtrar, analisar e garantir a segurança dos pacientes”, completa Sandra.
Desafios da Interoperabilidade
A última round table do Healthcare TALKS teve o tema “Interoperabilidade: o intercâmbio e o compartilhamento de dados sem fronteiras”. Sob moderação de Roberto Greenhalgh, Senior Healthcare Solutions Architect na Infor, o debate contou com participação de Gustavo Kiatake, presidente da Sociedade Brasileira de Informática na Saúde (SBIS); e Guilherme Zwicker Rocha, Diretor Clínico na Sociedade Paulista para o Desenvolvimento da Medicina (SPDM) e Presidente do HL7 Brasil, Médico Radiologista.
Também se juntaram a eles Joel Formiga, Brazil Country Manager na MphRx; e Kleber Araújo, CMIO do Hospital Unimed Recife III.
Guilherme Zwicker falou sobre os desafios da interoperabilidade no momento de transformação digital que o mundo está passando. “Existe uma grande dificuldade de explicar para o gestor de saúde o que é a interoperabilidade e sua necessidade, então o primeiro empecilho é trazer esse tema complexo à tona.”
Joel Formiga acredita que “a interoperabilidade se torna viável com a arquitetura de repositório e existe um rol enorme de coisas que você pode automatizar na saúde se você tiver um repositório, com dados centrados e organizados do paciente, e as ferramentas necessárias.”
Segundo Formiga, a discussão atual envolve o Care Coordination. “Temos que pensar na Telemedicina como um processo que começa antes da consulta médica e continua por muito tempo. Não podemos nos preocupar com o paciente apenas quando ele der entrada em uma UBS ou hospital, mas acompanhar a sua jornada e automatizar todo o processo.”
Gustavo Kiatake comentou sobre as diferentes abordagens do consentimento do paciente. “É interessante observar que esse tópico sempre foi muito discutido, mas agora temos uma Lei que torna o debate obrigatório. A LGPD dá muito poder aos pacientes, mas existe uma dificuldade para delimitar e entender as formas de orientar o sistema para filtrar qualquer especificação de consentimento.”
O presidente da SBIS acredita que o consentimento do paciente seja sensível, pois em alguns casos o compartilhamento de informações é necessário. “O resultado de um exame no laboratório não foi feito para ficar lá e esse dado precisa ser passado para o médico ou para outros profissionais. É preciso ter essa consciência e começar essa discussão pelo básico.”
O debate seguiu com Kléber Araújo discorrendo sobre a parceria entre a Unimed Recife em parceria com o Hospital Italiano de Buenos Aires. Assim como o Hospital Unimed III, a instituição argentina possui o certificado HIMSS Nível 7, se classificando como hospital digital.
“O maio destaque do Hospital Italiano é que eles criaram o próprio prontuário eletrônico e estudam o assunto de forma intensa desde então. Lá, eles utilizam o Snomed para facilitar na criação do prontuários eletrônicos através de sinônimos e nomenclaturas.”
“O papel da Unimed Recife é traduzir os termos para o português para ampliar o conhecimento e melhorar o nosso atendimento. Já temos uma base com mais de 100 mil termos, mas pretendemos aumentar esse número em breve.”
Assista ao Healthcare TALKS sobre “Transformação digital na Saúde: uma mudança social, cultural e humana” na íntegra:
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