“Vamos conhecer o Medtech Suíço e suas tendências”, por Ricardo Brito, do Grupo Bioscience

O conteúdo deste artigo, foi construído no mês de agosto de 2021, utilizando dados e informações coletados ao longo do ano de 2019, no período pré-covid.

A Swiss Medtech é uma associação de tecnologia médica Suíça que representa diretamente atualmente 550 empresas. Entretanto, se contarmos todos os ‘players’ do trade, indústrias, distribuidores, prestadores de serviços e comercialização, seu alcance atinge mais de 1.400 empresas e 65.000 funcionários com perfis variados. Cerca de 10% das empresas faturam acima da CHF50 milhões, 24% entre CHF6 a 50 milhões e 66% até CHF 6 milhões.

A idade das empresas estão divididas entre: 11% até 5 anos, 13%  de 5 a 10 anos e 76% acima de 10 anos; sendo que 43% são micro empresas, empregando até 49 pessoas, 37% são pequenas, empregando de 50 a 100 funcionários, 16% médias empresas com 101 a 249 funcionários e apenas 4% grandes, empregando mais de 250 pessoas. De todas as empresas participantes do Swiss Medtech, 38% são fornecedores de componentes e matéria-prima, 25% são fabricantes de produtos com sua própria marca, 21% são comerciantes e distribuidores de produtos de medtech e 16% são provedores de serviços especializados para as empresas de medtech.

Com resultado total de vendas de CHF 17 bilhões, e cresce cerca de CHF 2 bilhões anualmente, nos últimos dois anos, o faturamento proveniente de exportações deste setor corresponde a 67% (cerca de CHF 12 bilhões), ou seja, 3% do PIB Suíço, e contribui em 16,4% de superavit na balança comercial geral. As exportações crescem em média 3,2%  ao ano, nos últimos anos.

Não há dúvidas da força da SMTI (Swiss Medical Technology Industry). Apenas a exportação deste ‘cluster’, supera três vezes as exportações da Alemanha, de dispositivos médicos, em número per capta.

O principal parceiro comercial da Suíça para produtos médicos é a UE (União Europeia), movimentando CHF 3.2 Bilhões anuais, em exportações e CHF 5.5 Bilhões de importações.

Os ‘tops’ 10 destinos das exportações suíças são: EUA, Alemanha, Holanda, Bélgica, China, Japão, França, Itália, Grã-Bretanha e Espanha.

Já o ‘top’ 10 em importações é: EUA, Alemanha  Holanda, França, Itália, China, Grã-Bretanha, Irlanda, Bélgica, e Japão. Podemos afirmar que EUA, Alemanha e China são países estratégicos para o superavit suíço de dispositivos médicos.

A Suíça tem 85% de suas indústrias e fornecedores com instalações de produção em seu território. Elas alocam em média 10% das suas receitas  em Pesquisa e Desenvolvimento, fato responsável pelo mundialmente reconhecido ‘cluster’ de saúde inovador, tecnológico, com boa infra-estrutura  e com alta qualidade e quantidade de publicações científicas, além de ter o maior número de pedidos de patente per capta do mundo. Vale dizer que ao redor de 80% dos pedidos de patente estão divididos entre: inovação de materiais (30%), tecnologia de substituição de produtos (20%), processamento de dados (19%), dispositivos médicos (13%), automação e robotização (11%), tecnologia de substituição na produção (5%) e realidade aumentada e virtual (2%).

A maioria das empresas suíças do setor medtech estão planejando investir nos próximos dois anos no próprio país (45%), contra 25% que pretende investir em outros países e 30% que ainda não decidiram como dividirão seus investimentos. Há motivos de sobra para investir na própria Suíça. Além do alto ‘know-how’ do setor medtech, das condições econômicas estáveis, da logística extremamente estruturada e com um potencial de movimentação de cargas:  malha rodoviária, malha ferroviária, aéreas e hidrográficas, a Suíça ainda conta com dois Institutos federais de tecnologia, a EPF Lausanne e a ETH Zurique, focados em tecnologia médica, e com disponibilidade de especialistas em medical devices.

Dentre os profissionais mais procurados no setor, destaca-se a área de ‘marketing’ e distribuição com 25% das vagas de trabalho e Pesquisa de Desenvolvimento com 20% delas. Profissionais de operação e produção representam 15%, regulatório 12%, qualidade 11%, gestão em administração 9%, Tecnologia da Informação 6% e compras 2%.

Apesar da força e grandeza do setor da saúde, a Indústria de medical devices da Suíça tem alguns desafios importantes a serem enfrentados. Em virtude da crescente quantidade e qualidade dos documentos exigidos pelas agências regulatórias, o tempo para certificação de novos produtos médicos pode alcançar 10 anos para a aprovação. Além da certificação, a super valorização do Franco suíço perante as demais moedas mundiais demanda uma constante redução de custos e aumento de produtividade, negociações  ativas com os clientes e a manutenção da capacidade acelerada de inovar, buscando profissionais e especialistas altamente qualificados.

Consequentemente, surge diversos desafios para os fornecedores, distribuidores e comerciantes na Suíça. Primeiramente a pressão pelo menor custo e oferta de preços melhores para a indústria, de modo a aumentar a competitividade. Em paralelo há a necessidade de qualificar todos seus processos para atender a demanda e obstáculos crescentes dos documentos regulatórios necessários para fornecer produtos acabados ou semi-acabados. Há ainda que otimizar a entrada nos mercados globais enfrentando a concorrência dos produtos padrões e baixa margem, aproveitando também o valor agregado que carrega a bandeira suíça. Além disso, é preciso trabalhar os aspectos cambiais e buscar profissionais competentes e habilitados tecnicamente para a oferta de soluções inteligentes.

Os desafios entre a indústria e distribuidores, fornecedores e revendedores estão muito próximos uns dos outros, o que pode facilitar os dias que estão por vir.

Há fortes tendencias sobre as inovações que o setor de dispositivos médicos está preparando. Os ‘players’ estão investindo em áreas específicas, recorrendo à tecnologia de ponta: processos de fabricação 4.0, aquisição de dados, inovação em materiais, tecnologia de substituição (produção), dispositivos inteligentes, robotização, automação dos serviços, ‘interfaces’ entre o homem-maquina, tecnologia de substituição (produtos), métodos de fabricação, remédios personalizados, telemedicina, realidade aumentada e virtual, prevenção vs terapia no comportamento do paciente, autonomia da decisão dos médicos, prontuário do paciente disponível, atualizado e digitalizado, e novos sensores para medicação continua invasiva ou não.

Com certeza os novos requisitos regulatórios exigirão das empresas de medical devices a realização de pesquisa clínica, publicação de casos médicos por evidência e outras comprovações cientificas que ainda estão em discussão aqui no velho mundo.

A implantação da MDR (Mandatory Disclosure Regulation) e da IVDR (In Vitro Diagnostics Regulation) gerará impactos imensos no mercado de medtech. De acordo com estimativas, o atendimento às novas regras aumentará o custo dos produtos em 8%. O aumento dos custos regulatórios chegará a 30% em relação ao sistema regulatório anterior e a redução de portfólio é dado como certo para 60% das empresas. Além disso, os custos com pessoas aumentará, já que serão necessárias novas contratações para atender as novas demandas. O setor de medtech terá que se ajustar aos novos tempos, mas com certeza a consequência será o aumento dos preços.

Creio que as empresas que conseguirem captar bons profissionais e trabalharem bem a inovação em materiais, aquisição de dados, wereables e IOT, dispositivos inteligentes, impressão em 3D, individualização em próteses e implantes, monitoramento, robotização, realidade aumentada e virtual, simulação de intervenções e planejamento cirúrgico, gestão de risco nos procedimentos, e ainda, a utilização de inteligência artificial e estratégia de branding; estarão em uma posição privilegiada para enfrentar os desafios que cresce mundialmente 13% ao ano.

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