“VBHC Value Based Health Care, e a melhoria do desempenho e dos lucros”, por Ricardo Brito

Construído em 2006, na Harvard Business School, o indicador Value Based Health Care (VBHC) foi idealizado por grandes nomes atuais da administração e saúde.

Michael Porter, administrador e economista, autor de diversos livros de estratégia de marketing; e Elizabeth Teisberg, Ph.D. na Universidade Cullen Trust e co-criadora do conceito de prestação de cuidados de saúde baseada em valor; escrevem juntos o livro Redefinindo Cuidados de Saúde, que abre uma nova visão para serviços mais sustentáveis economicamente, combinando esforços para obter vantagens competitivas na administração das equipes clínicas, médicas e demais parceiros, baseando-se na qualidade dos serviços prestados, ao invés da quantidade.

O papel dos hospitais, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), é um organizador de caráter médico-social, que deve garantir a assistência médica, tanto curativa quanto preventiva para a população.

Além de ser um centro de doenças, de desenvolvimento de pesquisas e ensino da medicina, os hospitais são, principalmente, responsáveis pelo bem-estar e pelo melhor desfecho dos casos clínicos.

Resumidamente, o hospital é o grande responsável por alinhar a prestação de saúde e a entrega de bons resultados, resultado que pode ser medido pelo VBHC.

Entregar o conceito da saúde baseada em valor é mais desafiador do que parece.

Diversas pressões externas influenciam o desempenho das instituições de saúde, como: questões regulatórias, expectativas do paciente e o contínuo aumento de custos.

É fato que este último intangível fator desafia os gestores. A transição dos antigos modelos de pagamento para o Fee For Service (FFS) — taxa por serviço — está exigindo diversas adaptações no gerenciamento hospitalar e consequentemente, no modelo de prestação de serviço.

Este modelo de remuneração funcional baseado em serviços executados, determina que a fonte pagadora (seguradoras, operadoras de planos de saúde, o Sistema Único de Saúde – SUS), ou ainda o próprio paciente, arque com os custos de serviços de saúde conforme a utilização, incluindo a descrição dos itens consumidos. Infelizmente, as métricas desse modelo não favorecem a redução dos custos e nem colabora com a melhoria na qualidade dos serviços prestados.

Uma das questões mais críticas no modelo de prestação de serviço de saúde é a integração de dados. Um grande desafio se põe a nossa frente na agilidade dessa integração e ampliação da acessibilidade dos dados dos pacientes.

Apesar dos esforços conjuntos, os dados sistêmicos ainda são escassos, pouco transparentes e padronizados.

O impacto da falta de integração e organização dos dados dos pacientes reflete diretamente na agilidade, qualidade e custos dos serviços.

O controle do indicador Value Based Health Care (VBHC), acelerará e colaborará com a melhoria da performance.

A meta é permitir mais interações entre paciente e médicos, para garantir objetivamente a melhoria da qualidade de vida e bem-estar, reduzindo procedimentos e tratamentos para as doenças não crônicas, otimizando o tratamento das doenças crônicas, e proporcionando a melhor experiência possível através da integração dos dados da operação de rotina a um menor custo e promoção de um tratamento humanizado.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), estimam que ao redor de 30% dos gastos com saúde são mal utilizados ou desperdiçados em procedimentos evitáveis.

No Brasil os recursos desperdiçados chegam a 30% na rede pública.

Considerando que o orçamento público da saúde no Brasil é de R$ 304,41 bilhões de reais, este desperdício pode ser quantificado em torno dos inimagináveis R$ 31 bilhões de reais.

Os fatores econômicos, clínicos, estruturais e de gerenciamento completam essa difícil cooperação entre os agentes da saúde no Brasil.

No meu ponto de vista, há muito espaço para otimizar o atendimento da saúde no Brasil e o caminho apesar de ser complexo, não é impossível.

Manter o foco das ações nos pontos mais relevantes pode reduzir o custo direto e indireto por capta. Ou seja, melhorar o desempenho nas ações seve ser a prioridade das instituições de saúde e do governo.

Determinar e mensurar constantemente indicadores de desempenho relevantes, com análises individuais e coletivas pode realizar a diferença.

Um sistema composto por 49 milhões de beneficiários privativos através de 747 operadoras ativas, pode uma vez unidos, definir objetivos claros e melhorar a prevenção, conscientização e participação ativa dos usuários.

Nos Estados Unidos (EUA), o valor do custo anual total de desperdício representa USD$ 935 Bilhões, 25% dos gastos totais com saúde. Não há dúvidas da importância da aplicação dos conceitos do VBHC na geração de mudanças significativas. A forma de realizar as atividades e a distribuição do trabalho, assim como a valorização dos modelos assistenciais diretos e indiretos, realização de reuniões multidisciplinares, análises críticas, compartilhamento de informações, desenvolvimento de protocolos focados na otimização dos recursos e melhoria no gerenciamento das equipes clínicas, devem ser as prioridades dessa mudança.

A complexa questão remuneratória, no que lhe concerne, lidera a lista como ação consequente de todo o sistema.

Pagamento por valores fixos apresenta a vantagem de reduzir a realização de procedimentos desnecessários, já por valores variáveis, quando realizados por protocolos clínicos baseados em evidência e regras para composição do valor e mensuração da qualidade assistencial das equipes, mostra-se bastante promissor.

Recorrendo a dois relatórios-chaves, equipes clínicas que aplicam o VBHC já evidenciam a alta performance decorrente, através da “desospitalização” segura, identificação das ações efetivas nos procedimentos através da análise de desempenho, novos aprendizados e compartilhamento de informações, e a melhoria da experiência do cliente.

As vantagens ficam evidentes. Os custos das diárias hospitalares é reduzido, assim como a aplicação de medicamentos e a permanência desnecessária na internação. Há o evidente aumento da redução dos desperdícios, da relação intra e extra hospitalares e no maior interesse da comunidade na prevenção.

Estes relatórios são: os PROMs e os PREMs. Os PROMs (Patient Reported Outcomes Measures), é uma forma de monitorar a situação real de cada paciente e a auto-perspectiva de sua condição.

Através da coleta de dados é possível medir os próximos passos e identificar as oportunidades de melhoria da qualidade do serviço, escalonando sua percepção da cadeia de valor.

Já os PREMs (Patient Reported Experience Measures), são monitoramentos focados na satisfação do cliente pelos serviços recebidos na instituição e pelos profissionais, e ainda, mensuração da fidelidade do cliente.

Apenas depois de uma década da sua criação nos EUA, a Suíça desenvolveu o VBHCSUISSE.

O país está, portanto, dando seus primeiros passos na criação de indicadores e métricas para melhorar e aumentar a qualidade dos tratamentos baseados em valor, além do desenvolvimento contínuo e otimizado dos recursos disponíveis no sistema suíço de saúde.

A atenção está voltada principalmente para a padronização e medição sistemática e individual do paciente.

O objetivo é permitir que a Suíça participe ativamente desse movimento de reestruturação mundial, trazendo uma nova percepção do valor da saúde na experiência do paciente.

A verdade é não haver um único caminho ou o melhor deles para entregar uma saúde melhor. Todos os envolvidos no mercado de saúde estão sendo impactados pela pressão para criação de uma nova realidade e pela busca de espaço para otimização dos recursos.

Como suportar a pressão pela redução de custos, melhorar a qualidade e abrangência do fornecimento de tratamentos mais humanizados, depende da estratégia das empresas e pessoas envolvidas.

Cabe a cada um escolher ou combinar vários modelos, respeitando sua capacidade financeira, objetivos estratégicos e posição de mercado.

O fato é que este é o único destino para um futuro de sucesso: garantir que os sejam baseados em métricas eficientes como proposto pelo VBHC.

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