O mercado de tecnologia para dispositivos médicos vestíveis nunca recebeu tantos investimentos como hoje. As mudanças advindas da quantidade — quase inacreditável — de fusões e aquisições no mercado de saúde brasileiro mostra que o setor é um dos mais ativos na estratégia de consolidação.
Certamente as inovações tecnológicas e inteligência artificial devem se integrar às novas estratégias de crescimento, facilitando o atendimento ao cliente, mantendo o relacionamento e consequentemente a fidelização.
Acredito que haverá inúmeras oportunidades neste mercado, principalmente através dos dispositivos médicos vestíveis, ou seja, wearables. Arrisco dizer que as empresas que investirem no segmento de tecnologia, com o uso de wearables e IA (Inteligência Artificial) dentro do IOT (Internet of Things) para geração e transmissão dados, graças a essa conectividade, mudarão radicalmente a relação entre médicos e pacientes, proporcionando uma velocidade na tomada de decisões clínicas nunca vista em nossa história.
O novo mercado de saúde, já no espírito de pós-Covid19, deve ter sua demanda tecnológica aumentada fortemente.
Esse mercado movimentará até 2025, US$ 24.380 bilhões, a um CAGR (compound annual growth rate) de 24%. Este indicador econômico (taxa composta de crescimento anual) mostra a taxa de retorno de um investimento durante um determinado período.
Sim, estamos falando sobre uma taxa de retorno de 24% ao ano. Ainda, o mercado global de wearables, deve aumentar de US$ 8.350 bilhões em 2020 para US$ 10.280 bilhões em 2021.
Comumente associados aos ‘smart watches’, mas não limitados a ele, os fabricantes de dispositivos médicos móveis, ou melhor vestíveis, coletam e armazenam dados em suas plataformas e garantem a melhor experiência possível ao cliente.
Os principais players desse mercado de wearables são: Apple, Philips, Polar Electric, Omrom Corporation, Fitbit inc, lifewatch AG, Garmim ltda., VitalConnect, Jawbone inc, General Electric co e Jamboni inc, General Motors. A Google entrou nesse mercado adquirindo, há dois anos (2019), a Fitbit inc por US$ 7.35 por ação, totalizando US$ 2.1 bilhões, e não há dúvidas de que essa operação trará muitos benefícios e vantagens competitivas, integrando hardware e software.
O principal foco dos wearables é a possibilidade de agir e monitorar de forma contínua os principais indicadores de saúde, melhorando a qualidade das informações e garantindo em tempo real, diagnósticos e acompanhamentos terapêuticos.
Graças a sua capacidade de monitoramento do paciente, cliente e usuário — com vigilância — conseguem realizar triagem, assistência ao procedimento e pós-tratamento com gerenciamento integral.
Recentemente, na Universidade de Stanford, foi apresentado que sensores vestíveis emparelhados com algoritmos avançados podem chegar a prever inflamações, infecções, resistência a insulina, e ainda através do monitoramento da temperatura da pele, frequência cardíaca e de doenças neurológicas como epilepsia e Alzheimer.
A OMS apresentou duas estatísticas importantes sobre a saúde mundial. A primeira é que 75% das mortes no mundo advém de doenças crônicas, dentre elas principalmente hipertensão e diabetes; a segunda é que as DNTS (doenças não trasmissíveis), são responsáveis no saldo restante, por 80% do número global de mortes, 50% delas, de pessoas com menos de 70 anos, principalmente em países em desenvolvimento.
Além disso, a quantidade global de DNTS aumentará 17% na próxima década, e especificamente na África, 27%. Em 2019, a Diabetics Research and Clinical Practice afirmou que a população diabética no mundo alcança cerca de 500 milhões, representando 6% da população mundial. Este número deve chegar a 590 milhões em 2030 e, 750 milhões em 2050, tendo como consequência o aumento dos gastos com saúde.
Diante desse cenário, os wearables se tornam uma ferramenta importante e eficaz na redução de custo. Se o aumento dessas doenças crônicas acontecer paralelamente ao monitoramento contínuo dos indicadores de saúde e a conscientização das pessoas, haverá maior controle dos casos complexos e intervenções preventivas, reduzindo consequentemente os gastos relacionados ao tratamento.
Há cerca de 1 bilhão de wearables em utilização no mundo, quantidade que dobra a cada três anos. Como dito anteriormente, os Smartwatches são entre todos wearables, sem dúvida, os mais conhecidos e utilizados, mas os rastreadores e roupas inteligentes já integram parte significativa desse novo mercado.
A Apple apresentou, no primeiro trimestre de 2020, o resultado de US$ 10 bilhões de faturamento em wearables, totalizando a venda de mais de 100 milhões Applewatchs desde seu lançamento.
Com o crescimento do mercado há também as dúvidas sobre a confiabilidade das informações. A medida que mais dados e informações são coletados e armazenados na nuvem, uma questão importante surge: como as empresas garantem a preservação do sigilo das informações e dados?
Certamente grande parte dos investimentos futuros nas novas tecnologias estarão alocados na proteção dos seus bancos de dados. Tema central da vida Suíça, o direito ao sigilo é reforçando por leis que evitam abusos na utilização de dados e direitos de comercialização. Entretanto, diante de um tema tão importante, haverá necessidade de normatizar o uso de dados.
O fato é que fazer a diferença na qualidade de vida das pessoas será o diferencial que colocará algumas empresas desse setor a frente de outras. O caminho é construir estratégias de marketing que apresentem em sua proposta, o valor, a integração dos dados obtidos a um ecossistema de saúde específico do paciente.
Os wearables participarão do dia a dia das pessoas, captando dados rotineiramente, conseguindo informar com antecedência e ao toque de seus dedos, a necessidade de efetuar algum procedimento e aconselhamento médico.
Para aqueles que estão se perguntando daqui a quanto tempo essa tecnologia está em nossas vidas, afirmo: isso já é uma realidade. As seguradoras de saúde Suíça, por exemplo, já anunciaram que ao longo da próxima década será praticamente impossível fazer um seguro de vida sem o uso de um wearable que forneça de forma voluntaria seus dados de saúde.
Seja pela segurança, pela qualidade de vida ou por redução de custo, o uso de wearables para monitoramento da saúde é um destino certo e um excelente mercado a ser explorado.
Com experiência em multinacionais como Alcoa, Shell e Telefonica, atuou nas principais empresas de medicina de Grupo do Brasil. Com especializações pela FGV em Gestão de Negócios e Marketing de Serviços e MBA em Administração e Gestão de Negócios, atua como CMO da Biomecanica e Grupo Bioscience desde 2012.