Um elemento chave na transformação do que agora é chamado “ecossistema de saúde” é a maior responsabilidade do paciente pelo controle da sua saúde. À medida que o cidadão é pressionado pela crise constante dos sistemas de saúde (tanto públicos quanto privados) cresce a pressão que mude comportamentos contraproducentes e participe ativamente nas decisões a cerca de quais serviços serão ou não considerados direitos da sociedade.
Atualmente muitos pacientes permanecem se comportando de forma imatura frente aos novos desafios referentes ao que os sistemas de saúde podem ou devem fazer por eles. Comum entre muitos querer sentir, parecer e viver como se tivessem 25 ou 40 anos, esperando que os sistemas de saúde possibilitem isso.
À medida que os pacientes assumem a responsabilidade mais intensa por sua saúde eles começam a se tornar “compradores” mais sensatos. O nível de exigência perpassa por valores e melhoria nas escolhas que acabam exercendo pressão para manter o custo do sistema dentro dos limites.
A transformação responsável é influenciada pela infraestrutura e pela adoção cada vez maior da tecnologia da informação pelos sistemas de saúde. Redes integradas ajudam a evitar o desperdício e falhas nos serviços sob a forma de diagnósticos incorretos, exames repetidos sem necessidade, uso de medicamentos conflitantes e muitos outros.
Os prontuários eletrônicos de saúde utilizados pelos prestadores vinculados aos prontuários pessoais de saúde controlados pelos pacientes condensam cada vez mais a divulgação de informações críticas de cada caso. Nesse sentido, o processo vai se aperfeiçoando, facilitando a tomada de decisões com maior qualidade, respeitando a forma e método do tratamento dos prestadores escolhidos.
O acesso rápido e eficaz da informação sobre opções, custos e qualidade de serviços de saúde permite aos pacientes optarem por escolher de modo consciente frente à comunicação estabelecida com os canais provedores dos serviços em questão. O acesso a informação e comunicação permitem ao paciente e familiares a tomada de decisão na forma do tratamento específico, na obtenção e análise de dados e resultados de exames, na participação mais intensa durante o tratamento, permitindo maior integração no processo.
Atualmente, os tratamentos realizados de todos os procedimentos de saúde (consultas e exames, por exemplo) costumam estar desvinculado ao pagamento, uma vez que os pacientes não sabem quanto custam esses serviços, pois muitos deles consideram “gratuitos” ou pré-pagos. Eles não apenas não têm informação quanto custam os serviços com também são sabem o quanto são bons. É preciso mais esclarecimentos e mecanismos para permitir que o cidadão tenha como fazer escolhas de estilos de vida saudáveis ou procurar tratamentos preventivos.
O envolvimento direto dos pacientes na sua saúde influencia de maneira absoluta as escolhas de estilo de vida. Hoje existe um relativo descaso por essas escolhas – as crescentes taxas de obesidade, colesterol alto (inclusive em crianças) indicam maus hábitos de alimentação e prática de atividades físicas. Escolhas de estilos de vida são cada vez mais intensas e más escolhas resultarão em consequências em curto prazo. Não fumantes, não obesos, não sedentários precisarão menos cuidados médicos e, como resultado, pagarão menos por despesas totais relacionadas à saúde e tratamentos.
À medida que os governos e empregadores acordarem para a realidade de que os pacientes se tornem mais saudáveis e que profissionais mais produtivas custam menos, cada vez mais surgirão programas de condicionamento físico. A decisão da Prefeitura da cidade de São Paulo em criar e apoiar as ciclovias está se multiplicando. Outras prefeituras estão procurando estimular o desenvolvimento de um uso misto, no qual os habitantes podem caminhar de suas casas para o trabalho. Embora o número absoluto de pessoas que viverão em tais lugares será pequeno, seu impacto cultural terá um potencial amplo adotando e promovendo estilos de vida mais ativos e saudáveis.
Uma boa notícia: conforme as crescentes despesas com saúde colocam maior responsabilidade nos pacientes a mesma tendência disparará mecanismos requeridos para desacelerar a velocidade da evolução dos custos. E conforme os pacientes assumirem mais responsabilidade por sua saúde, mais necessário se fará com o volume de informação. Nesse sentido, determinar as opções de melhor valor, bem como canais, locais e prestadores que apresentem uma melhor relação custo-benefício determinará uma transformação significativa em muitos pacientes na procura de tomada de decisões. A forma de criar um sistema de saúde significativamente melhor frente à prestação de serviços impulsionará cada vez mais uma sociedade racional e sustentável.
Marcos Barello Gallo é CEO da Multimax Healthcare Marketing, empresa de comunicação e marketing especializada no desenvolvimento de pesquisas quantitativas e qualitativas e avaliação da jornada dos pacientes. Ao longo de mais de vinte anos, a Multimax atendeu organizações de saúde como Instituto do Câncer do Estado de São
Paulo, Hospital Samaritano, Hospital 9 de Julho, Hospital Santa Paula e muitos outros. É publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing, foi professor de Pesquisa Mercadológica e Marketing de Serviços e pós-graduado em Curso de Ouvidoria Pública e Privada pela Unicamp.