O ano de 2024 foi marcado por uma movimentação intensa no setor de dispositivos médicos e OPMEs (Órteses, Próteses e Materiais Especiais), impulsionada especialmente pelas dinâmicas do comércio exterior.
Importações e exportações voltaram a crescer e tiveram papel decisivo nos resultados do setor, como revelou Leandro Rocha, da T4 Health e IN3 Inteligência, durante sua apresentação na feira Hospitalar.
A flutuação cambial, com destaque para o comportamento do Dólar, também influenciou diretamente o desempenho e as projeções para o setor, além de evidenciar uma questão já conhecida: o consumo interno ainda depende fortemente de produtos importados.
Apesar disso, a produção nacional manteve um papel de equilíbrio importante.
Em 2024, a indústria brasileira de dispositivos médicos alcançou US$ 3,25 bilhões (ou R$ 17,5 bilhões), com crescimento de 3,1% em reais — um dos maiores índices dos últimos 15 anos.
O consumo aparente do setor, que leva em conta produção nacional mais importações menos exportações, cresceu 8,24%, acima do índice geral de bens industriais medido pelo IPEA, que foi de 5,8%.
Importações e exportações ganham força
Após um período de retração, as importações voltaram a crescer com força em 2024, registrando alta de 8,37% e somando US$ 5 bilhões (cerca de R$ 26,96 bilhões).
As exportações também surpreenderam, com avanço de 20,6% e total de US$ 932 milhões.
Ainda que o valor exportado não seja suficiente para inverter o déficit da balança comercial, o resultado demonstra uma movimentação positiva.
No detalhamento por segmentos, o destaque ficou com a ortopedia, que teve crescimento de 11,96% em valor. Cardiovascular também avançou, com alta de 4,29%.
O bom desempenho é explicado por fatores como o envelhecimento da população, o aumento dos procedimentos eletivos e traumáticos, e a busca por soluções tecnológicas com melhor custo-benefício — apesar dos desafios regulatórios e da dependência de tecnologias estrangeiras.
Diagnóstico por imagem lidera exportações
O segmento de diagnóstico por imagem foi o campeão em crescimento percentual nas exportações: alta de 65,09%, chegando a US$ 112,9 milhões.
O desempenho superou até mesmo o crescimento geral das exportações de bens de alta tecnologia no país, que ficou em 11,5%.
O avanço foi atribuído à especialização de plantas industriais no Brasil e ao aumento da produção de componentes eletrônicos e equipamentos digitais.
Ainda assim, o déficit comercial persiste em alguns segmentos.
A balança de diagnóstico por imagem, por exemplo, registrou saldo negativo de 13,17%, enquanto o setor cardiovascular teve queda leve de 0,31%.
Impacto prático no setor: empregos e acesso à saúde
Todo esse movimento tem reflexo direto no mercado de trabalho.
O setor de dispositivos médicos emprega hoje mais de 265 mil profissionais, com perspectiva de crescimento nos próximos anos.
O desempenho na geração de empregos acompanha de perto os números gerais do país, com destaque para o comércio e serviços ligados ao setor.
Já na divisão entre o mercado público e o privado, os dados indicam uma tendência de estabilidade, com leve predominância do setor privado: 60% contra 40% do público.
Os procedimentos realizados em 2024 cresceram 3,3%, totalizando 4,11 bilhões.
No recorte específico, o crescimento foi puxado por ortopedia (+6,7%), cardiovascular (+6,2%) e diagnóstico por imagem (+5,7%).
Em resumo, o setor de dispositivos médicos e OPMEs no Brasil segue aquecido e resiliente, mesmo em um cenário de desafios cambiais e dependência externa.
A produção nacional avança, o comércio exterior ganha tração e o impacto prático é percebido em mais acesso à saúde e na geração de empregos.
Para os próximos anos, as projeções continuam otimistas, com expectativas de crescimento sustentado até 2026.