As enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul entre abril e maio de 2024, configuraram-se como a maior catástrofe climática da história do estado. Com chuvas intensas e contínuas, agravadas pelo fenômeno El Niño e pela falta de manutenção em infraestruturas críticas, mais de 95% dos municípios gaúchos foram afetados.
Porto Alegre, nossa capital, sofreu severamente com o transbordamento do Lago Guaíba, que atingiu 5,3 metros acima de sua cota natural, inundando bairros inteiros. A falha no sistema de contenção, incluindo diques e casas de bomba, resultou em evacuações em massa, interrupções no abastecimento de água e energia e o fechamento do Aeroporto Internacional Salgado Filho por mais de seis meses.
O impacto humano e econômico ao estado foi devastador. Segundo a Defesa Civil, 184 mortes foram confirmadas, com dezenas de desaparecidos e mais de 1,9 milhão de pessoas duramente afetadas. Estima-se que os prejuízos totais ultrapassaram R$ 88,9 bilhões, com 69% desse valor concentrado no setor produtivo. A tragédia expôs a vulnerabilidade das cidades gaúchas frente a eventos climáticos extremos e evidenciou a urgência de investimentos em infraestrutura resiliente e políticas públicas eficazes.
Em resposta à calamidade, o governo estadual lançou o “Plano Rio Grande”, um programa abrangente de reconstrução e adaptação climática, com investimentos superiores a R$ 2,2 bilhões. Dividido em três eixos – Emergencial, Reconstrução e RS do Futuro – o plano visa restaurar infraestruturas, apoiar populações afetadas e fortalecer a resiliência climática do estado. A sociedade civil participa ativamente por meio do Conselho do Plano Rio Grande, garantindo transparência e inclusão nas decisões.
Porto Alegre também implementou medidas significativas. A prefeitura destinou R$ 530 milhões em 2024 para áreas como saúde, educação, assistência social, mobilidade urbana e saneamento. Além disso, foram investidos R$ 510 milhões na reconstrução da drenagem e segurança hídrica, R$ 326 milhões na recuperação de 218 equipamentos públicos afetados e R$ 6,3 milhões no desenvolvimento sustentável da região das Ilhas, onde registra-se o menor IDH da cidade. Projetos de gestão, monitoramento e alerta de riscos também foram contemplados, com investimentos anuais de R$ 2,6 milhões.
Apesar dos esforços, muitos desafios persistem. Quase um ano após as enchentes, a maioria das casas de bomba que colapsaram ainda aguarda reformas, com apenas quatro das dezenove estações, já licitadas para execução. A falta de investimentos prévios em prevenção agravou os danos, evidenciando a necessidade de manutenção contínua e planejamento estratégico para enfrentar eventos climáticos futuros.
Outra pauta de constante receio para a sociedade gaúcha, é situação atual da dragagem e desassoreamento da bacia de rios do delta do Jacuí e do Lago Guaíba. A mesma permanece como uma preocupação crítica para a segurança hídrica da Grande Porto Alegre. Apesar de o licenciamento ambiental para essas atividades estar em dia, a execução efetiva das obras tem sido muito limitada. O governo estadual anunciou investimentos de R$ 731,3 milhões para a dragagem de hidrovias, incluindo o Guaíba e o Jacuí, como parte do “Programa Estratégico de Reconstrução”.
Além disso, foram publicados editais para a contratação de serviços de batimetria e dragagem emergencial em diversos canais. No entanto, especialistas discutem e divergem sobre a eficácia dessas medidas na prevenção de novas enchentes. As dragagens e desassoreamentos tendem a colaborar pouco para conter futuras enchentes na Bacia do Guaíba.
Por outro lado, há um alerta que a falta de dragagem no Guaíba ameaça a paralisação de atividades industriais importantes da região metropolitana. Portanto, embora iniciativas estejam em andamento para mitigar os riscos de alagamentos, a efetividade dessas ações dependerá da execução tempestiva e coordenada dos projetos de dragagem e desassoreamento, bem como de uma abordagem integrada que considere os diversos fatores que contribuem para as enchentes na região.
As enchentes de 2024 no Rio Grande do Sul e em Porto Alegre ressaltaram a urgência de políticas públicas voltadas à prevenção e adaptação às mudanças climáticas. Embora medidas importantes tenham sido tomadas, a eficácia dessas ações dependerá da continuidade dos investimentos, da manutenção das infraestruturas e do engajamento pleno da sociedade civil. Somente com um compromisso coletivo será possível construir cidades mais resilientes e preparadas para os desafios climáticos do futuro.
Futuro este que foi amplamente debatido no “4º Summit Ambiental Internacional”, realizado em novembro de 2024 pelo Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre, onde o cientista Carlos Afonso Nobre fez um alerta contundente sobre os riscos das mudanças climáticas para o Rio Grande do Sul. Em sua palestra magna, Nobre afirmou que, caso a temperatura global alcance 4 °C acima dos níveis pré-industriais, o estado poderá se tornar inabitável. Ele destacou que a temperatura média global já subiu 1,3 °C desde a era pré-industrial, e que, nos últimos cinco anos, a média foi de 3,3 °C acima desse patamar.
Nobre enfatizou que eventos climáticos extremos, como as enchentes de maio passado no Rio Grande do Sul, são reflexos diretos do aquecimento global e do desequilíbrio ambiental. Ele alertou que, com um aumento de 4 °C, as ondas de calor poderão ser 5,3 °C mais intensas e ocorrer 38 vezes a cada 50 anos, afetando especialmente populações vulneráveis, como idosos, crianças e pessoas de baixa renda, tendo impacto direto na saúde da população. O cientista também ressaltou que a humanidade já emitiu cerca de 1,5 trilhão de toneladas de dióxido de carbono desde a Revolução Industrial, contribuindo para o aumento do nível do mar em 10,3 centímetros desde 1993 e a perda de 8,3 mil quilômetros cúbicos de geleiras desde 1976.
Para enfrentar essa crise, Nobre defendeu a necessidade urgente de zerar as emissões de gases de efeito estufa, combater o desmatamento e o comércio de animais selvagens. Ele destacou que o Brasil tem potencial para liderar a luta contra a crise climática por meio de políticas públicas de resiliência, controle do desmatamento e adaptação climática em todos os setores, visando atingir metas de redução de emissões até 2030 e alcançar a neutralidade de carbono antes de 2040.
Concluindo, a cidade de Porto Alegre, em particular, enfrenta o desafio de transformar aquela tragédia em oportunidade de reestruturação urbana e fortalecimento das defesas contra enchentes. A implementação eficaz dos planos de reconstrução e a priorização da manutenção preventiva, serão cruciais para garantir a segurança e o bem-estar da população diante de eventos climáticos cada vez mais frequentes e intensos. Que o “Porto dos Casais” e “Cidade Sorriso”, esteja suficientemente estruturada e preparada em suas bases, para nunca mais viver cenas de tamanha desolação, tristeza e destruição vistas em maio de 2024.

Profissional com 36 anos de carreira, tendo foco na alta gestão estratégica de grandes corporações. Conhecimento agregado nos últimos 10 anos do segmento hospitalar e de saúde, sendo responsável direto por áreas de apoio e geradoras de resultados ao negócio do Hospital Moinhos de Vento em Porto Alegre: Suprimentos (Compras e Logística de Materiais), Infraestrutura (Engenharias Clínica, Predial, Eletromecânica e Obras), Tecnologia da Informação (hardware, software, dados e inovação), Saúde Digital (Telemedicina), Gestão Ambiental, Segurança Patrimonial e Estacionamentos. Administrador de formação, possui educação executiva pela Harvard Business School em “Valor no Cuidado à Saúde”, Pós-MBA pela Fundação Getúlio Vargas em “Inteligência em Negócios”, MBA executivo internacional pela University of California em “Gerenciamento de Negócios” e MBA pela Fundação Getúlio Vargas em “Supply Chain Management”. É professor convidado do programa de MBA em Gestão na Saúde da PUC/RS na disciplina de “Sustentabilidade em Saúde”, professor convidado da pós graduação em saúde da Faculdade Unimed, professor convidado do MBA em Saúde da Faculdade Moinhos de Vento e um dos 100+ influentes da saúde no Brasil em 2022, 2023 e 2024 pelo Grupo Mídia.