Educação e ética caminham lado a lado

O Brasil vive hoje um descompasso no que diz respeito a ética. Enquanto muitos setores estão mobilizados para combater desvios de conduta, como é o caso da Saúde, ainda são muitas as barreiras para levar os conceitos de integridade para a sala de aula e atingir os profissionais do amanhã, as gerações futuras.

E afirmo isso por experiência própria. Um dos pilares do Instituto Ética Saúde é a “Sensibilização e Educação”. Oferecemos, atualmente, palestras para profissionais de saúde, empresas fornecedoras de produtos para saúde e gestores de hospitais pelo Programa Educação em Compliance, por videoconferência (EAD) pela plataforma do EducaSus, em parceria com a Federação das Santas Casas e Hospitais Beneficentes do Estado de São Paulo.

O resultado do primeiro ano foi fantástico: centenas de pessoas em mais de 30 cidades de 15 estados brasileiros puderam assistir os 10 primeiros módulos. Porém, ainda não conseguimos alcançar os estudantes de enfermagem, medicina, odontologia, fisioterapeutas, entre outros, como gostaríamos.

Muitas faculdades já abriram as portas para o Instituto, mas o tema ainda não faz parte da grade curricular, o que seria o ideal.

O Brasil forma milhares de novos profissionais da saúde todos os anos. É essencial que eles saiam com uma formação que discuta e valorize a ética na prática diária.

Sempre que visita uma instituição de ensino, o diretor técnico do Instituto Ética Saúde, que é médico, Sérgio Madeira, destaca a assimetria de informações do mercado da saúde, que contribui para situações de má conduta no exercício da profissão.

“As escolhas do jeito de viver de cada indivíduo, seus objetivos e metas impactam em como atuar nesse mercado imperfeito. Há que haver atenção e cuidado na construção da carreira, na separação do que é ato médico e do que é venda de produtos médicos”, ele defende.

Lembramos sempre que os desafios ainda são muitos na busca por um sistema de saúde mais sustentável e transparente e os profissionais de saúde, os gestores da indústria, distribuição e hospitais são protagonistas nesta luta.

Em uma palestra na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP (FMRPUSP), recentemente, Sérgio Madeira, alertou: “Vocês precisam ter consciência de que as suas escolhas vão ter consequências diretas para a saúde e segurança do paciente e, finalmente, impactar a sociedade brasileira”.

É preciso que professores e principalmente os tomadores de decisão dentro das faculdades deem o devido valor para essa questão. E este não é um tema que deve ser abordado só quando o cidadão chega à faculdade. Ética é uma questão de valor e precisa estar presente na vida da gente desde pequenos.

Em reunião com o ministro da Educação, em janeiro, o executivo de Relações Institucionais do IES, Carlos Eduardo Gouvêa, lembrou que “a corrupção é um problema geracional. São hábitos, costumes, conceitos e pré-conceitos que precisam ser trabalhados desde cedo entre os cidadãos”. Ele apresentou para Abraham Weintraub um projeto para levar os conceitos de ética e integridade para a educação de base, no Brasil.

Sabemos que a construção desse alicerce moral é complexa. Estudiosos defendem que a ética precisa ser vista como objeto interdisciplinar no contexto escolar, caso contrário ficará limitada às aulas de filosofia.

O ministro incentivou a iniciativa do IES e afirmou que apoia a causa. Aconselhou o Instituto a iniciar o trabalho pelas secretarias municipais de educação e saúde. Vamos à luta. O Brasil precisa educar cidadãos que reflitam mais, que sejam mais críticos e mais responsáveis.

*artigo escrito por Gláucio Pegurin Libório, presidente do Conselho de Administração do Instituto Ética Saúde, publicado na edição 68ª da revista Healthcare Management. 

 

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