Ao longo dos séculos, vários foram os estudiosos que buscaram entender a lógica do funcionamento das organizações, conformando-se, nesse processo, novas “formas de pensar e compreender” que deram suporte às diferentes correntes (ou escolas) que compõem as Teorias da Administração.
Em síntese, para que as empresas possam sobreviver, precisam ter a capacidade de se modificarem internamente pela criação de novas ou diferentes partes constituintes, adaptando-se, desta forma, às novas necessidades a elas impostas.
No bojo das discussões para formulação de instrumentos gerenciais e estratégias de ação que viabilizem o objetivo proposto, surgem alguns questionamentos quanto à eficiência e eficácia da gerência da rede física de serviços de saúde, isto é, destacam-se dentre os recursos disponíveis os recursos físicos e tecnológicos, compreendendo o prédio, suas instalações e equipamentos.
Constata-se, no momento da discussão relativa à otimização dos recursos, que tanto a manutenção da rede em funcionamento como os mecanismos adotados para a adaptação e ampliação da rede física existente ocorrem de forma desordenada. Ao mesmo tempo, reconhece-se que a incorporação de tecnologia inerente ao processo de transformação e de expansão da rede física no setor saúde também tem ocorrido de modo desordenado, contribuindo provavelmente para elevar desnecessariamente os custos, já altos, do setor.
Na área da estrutura das edificações e na área de infraestrutura das instalações hospitalares, observa-se idêntica situação, a carência de profissionais na gerência e manutenção da infraestrutura física em saúde, uma vez que a vida útil de uma edificação, principalmente na área hospitalar, está diretamente relacionada à qualidade e regularidade da sua manutenção adequada, com a efetiva ação de rotinas e procedimentos preventivos e corretivos.
É indiscutível que o processo de incorporação de tecnologias na assistência médico-hospitalar ocorre de modo acelerado, irreversível e implacável.
Ao estabelecer princípios como a universalidade, a equidade e a integralidade da atenção, e como as diretrizes organizacionais da descentralização e da participação da sociedade, o Sistema Único de Saúde – SUS rompeu com o sistema anterior, fundou novas bases institucionais, gerenciais e assistenciais para o provimento das ações e dos serviços de saúde no país, então considerados como direito universal da cidadania e dever do Estado.
No processo de incorporação de tecnologia, o SUS, vivencia a dualidade na prioridade de investimentos, uma vez que, por um lado, seria preciso incorporar novas e modernas máquinas para a atenção curativa terciária, que surgem cada vez mais rápido. Por outro lado, buscam-se ainda novas tecnologias de promoção e prevenção de saúde para lidar com as chamadas “doenças da pobreza” por meio da atenção básica, como por exemplo, a Estratégia da Saúde da Família.
Paralelamente, os avanços científicos e tecnológicos disponibilizam soluções eficientes para cada vez mais problemas de saúde, sobretudo, para quem pode pagar por eles, aumentando a pressão em relação ao financiamento do setor sem que estudos de custoefetividade sejam operacionalizados para balizar escolhas e prioridades na alocação de recursos de investimentos e, consequentemente, na incorporação de novas tecnologias de atenção à saúde.
É indiscutível que o processo de incorporação de tecnologias na assistência médico-hospitalar ocorre de modo acelerado, irreversível e implacável. Tal processo é marcado por quatro dimensões “estruturantes”, que lhe imprimem maior grau de complexidade:
– A incorporação de máquinas e equipamentos biomédicos não substitui a mão de obra existente;
– A incorporação de tecnologias para o apoio ao diagnóstico é cumulativa – uma nova tecnologia não prescinde da anterior;
– A incorporação de tecnologias na saúde pressupõe a formação/capacitação constante de operadores;
– As incorporações de tecnologias na saúde pressupõem cuidados redobrados com “a saúde” do parque tecnológico, com vistas à confiabilidade.
Se levar em conta o aporte das novas e complexas tecnologias das últimas décadas, expressas pelo incremento de serviços de alto custo e da alta complexidade, ver-se-á que existem grandes lacunas, quantitativa e qualitativamente falando, em relação à mão de obra técnica capacitada para operar e manter como: Técnicos de Enfermagem, Técnicos de Biodiagnósticos, Técnicos de Raios-X e de Imagens, Técnicos de Manutenção de Equipamentos Biomédicos, entre outros, que necessitam ser incorporados à força de trabalho do SUS.
Segundo documento do Ministério da Saúde, nos últimos anos, o que se observou foi o subaproveitamento e desperdício de recursos, duplicação de esforços e dificuldade de se definir o alvo para a ação social. Este quadro é agravado e caracterizado pela má escolha de critérios para alocação de recursos oriundos de emendas e recursos externos e pelo excessivo peso político na decisão de alocação desses recursos.
Pode-se ainda observar que as ocorrências nos contratos de manutenção, seu acompanhamento técnico quanto à qualidade do que é feito, deve-se à inexistência em muitas unidades hospitalares de especialistas em gestão de manutenção (engenheiros clínicos, engenheiros de manutenção, engenheiros biomédicos, técnicos etc.), limitando-se às organizações a pratica de um acompanhamento burocrático dos contratos feitos por profissionais, que em vários casos, carecem de conhecimentos técnicos nessa área específica.
Planejar neste contexto passa a ser uma necessidade cotidiana, mas precisa ser um processo permanente, para que se possa garantir a direcionalidade das ações desenvolvidas. Para se corrigir rumos, enfrentar imprevistos e buscar sempre caminhar em direção aos objetivos que se quer alcançar. Planejar é pensar antes, durante e depois do agir. Envolve-se o raciocínio (a razão) e, portanto, pode-se entender que o planejamento é um cálculo (racional) que precede (antes) e preside (durante e depois) a ação. É um cálculo sistemático que articula a situação imediata e o futuro, apoiado por teorias e métodos.
O desafio posto pela realidade é o de adequar a incorporação tecnológica à estrutura de necessidades de saúde, pois não existe no mundo e muito menos num país como o Brasil, recursos financeiros suficientes para suportar a lógica dos diagnósticos e exames complementares, baseados na tecnologia dos equipamentos de custo altíssimo e de rápida obsolescência. É preciso redefinir o papel dos Estabelecimentos Assistenciais de Saúde – EAS na organização da atenção, mediante a valorização da atenção ambulatorial e domiciliar, da articulação da demanda variável a uma oferta organizada de serviços e da utilização do saber epidemiológico e social na realização das práticas de saúde.
Neste contexto, a palavra-chave é reorganizar, voltado à transformação das unidades hospitalares existentes, de modo que estas possam incorporar novas tecnologias.
*Artigo escrito por José Mauro Carrilho Guimarães, Arquiteto Urbanista, Mestre em Educação Profissional em Saúde, Funcionário Público Municipal há 35 anos, Perito Judicial e Professor convidado a ministrar disciplinas em Cursos de Pós-Graduação na área da Arquitetura e Engenharia Hospitalar.