Cuidar de criança não é coisa fácil. À parte o encantamento que vêm agregado à pequenas versões de seres humanos que todos já foram um dia, o fato é que, nos primeiros anos de vida, cada cuidado é especial e específico. Há, no entanto, momentos no decorrer da história que tornam tal zelo inexecutável. Momentos nos quais o impensável se torna real.
Foi em um desses momentos que o Hospital Pequeno Príncipe foi aberto. Chamado Dispensário Infantil na época, foi logo após a conclusão da 1ª Guerra Mundial que um grupo de curitibanas decidiu tornar o cuidado à saúde infantil mais viável e valoroso. A instituição, que viria a se tornar o berço da pediatria paranaense, fez do amor à criança seu lema, e desenvolveu um formato atendimento que trata cada paciente com atenção individual.
O ideal de oferecer às crianças e adolescentes um futuro melhor não poderia ter funcionado de forma mais certeira: na última década, mais de 400 transplantes de órgãos foram realizados pelo Complexo Pequeno Príncipe, com índices cada vez maiores de sobrevida. Não em vão, o marco de 100 anos de atuação veio com um presente excepcional: a acreditação Nível III da ONA, maior grau de certificação da Organização.
Para José Álvaro Carneiro, diretor corporativo do Complexo, o reconhecimento não contribui apenas com a credibilidade da Instituição, como também reforça o comprometimento com os processos de qualidade e segurança do paciente. “A formalização reforça que o cuidado que oferecemos, em 100 anos de atendimento às crianças, é o caminho que devemos seguir sempre, mantendo-nos fiéis ao nosso DNA de pioneirismo e compaixão.”
Além disso, Carneiro vê o selo Nível III como um estímulo imensurável às equipes do Hospital, que visam oferecer o melhor atendimento, mas, agora, também o mais seguro. Assimilar os processos de qualidade à rotina dos colaboradores foi, inclusive, um dos maiores desafios da gestão na busca pela acreditação.
A implementação da “cultura de qualidade” começou em 2013, e passou a impactar cada vez mais nos processos de melhoria contínua. O diretor explica que, no início da busca pelo selo, a questão foi discutida; o resultado desta decisão deu o tom dos próximos anos e, por fim, da conquista em si. “A gente quer um certificado para colocar na parede ou quer trabalhar para alterar a cultura da organização como um todo? A opção foi alterar a cultura. Queremos embutir na cultura da organização para sempre a melhoria contínua.”
Apesar da complexidade do processo, Carneiro afirma que foi tudo muito gratificante. “Quando iniciamos a preparação para a certificação ONA percebemos que tínhamos muita vontade e desejo. Nossas equipes buscavam fazer o melhor, mas tínhamos ajustes de percurso para que todos falássemos a mesma língua” conta. O time de gestão decidiu, então, trabalhar duro para mudar os hábitos de um contingente de nada menos que 2.295 colaboradores.
“Ao longo destes anos investimos em padronizações, formalizações e muita capacitação” explica. Mas o diretor sabe que, apesar dos avanços, a implementação definitiva da cultura de qualidade na matriz ainda deve levar algum tempo. “Sabemos que a mudança de cultura não acontece da noite para o dia, e que temos pela frente pelo menos mais 10 anos, contando a partir de hoje.”
Instituição filantrópica, Carneiro relembra que o Hospital Pequeno Príncipe, parte do Complexo que engloba ainda uma Faculdade e um Instituto de Pesquisa, presta serviços para o SUS, o que confere mais peso à acreditação, crê. “Isso evidencia o valor da equidade, que para nós é uma premissa.”
Do outro lado dessa mesma moeda, os investimentos realizados pelo HPP também passaram por ajustes durante os processos de conquista, melhorando a gestão na aplicação dos recursos. Atualmente, além dos investimentos progressivos em TI através do projeto de captação de recursos “Hospital Digital”, que prevê arrecadação de R$ 10 milhões nos próximos dois anos, há preocupações com infraestrutura e educação.
“Estamos investindo R$ 5 milhões em construção civil e equipamentos para o Centro Cirúrgico, e também na área diagnóstica, com equipamentos como o Maldi-Tof, que acelera e refina análises microbiológicas.” No quesito educação, o Complexo colocou em operação no final de 2018 um centro de simulação realística. Por hora, a maior preocupação é manter o Nível III. Já para os próximos anos, entre 5 e 10, estima, o objetivo é conquistar uma certificação com selo internacional.
“Porque um prazo tão longo? Nós temos limitações estruturais, mas não temos limitações de processo para avançar para uma acreditação internacional. Porém temos uma estrutura que começa a funcionar nos anos 30 e uma outra nos anos 70.” Por mais que tenha havido uma ampliação no bloco construído em 1970, Carneiro explica que a estrutura não permite certas alterações, e impossibilita a estanqueidade exigida pelas certificações internacionais.
Dos resultados mais promissores do processo de acreditação, o destaque, segundo o diretor, vai para os índices de mortalidade. “No começo desse século tínhamos uma taxa geral de mortalidade que chegava a 2,5% dos pacientes internados. No ano passado, 2018, essa taxa foi de 0,59%.” É a menor taxa na história do Hospital Pequeno Príncipe, conta. “A acreditação e a certificação têm a ver com a gestão sistêmica de risco ao paciente e nisso a gente melhorou profundamente.”