“Não há solução para o setor privado sem o diálogo e interação com o público”, afirma novo diretor-executivo da Anahp

Em entrevista exclusiva, Antônio Britto defende a cooperação entre os setores baseada em uma rede integrada de cuidados contínuos

Desde 2020, a pandemia da Covid-19 coloca o mundo em uma situação dramática. No Brasil, setores público e privado fazem o possível para lidar com a quantidade de pacientes contaminados com os recursos disponíveis.

Antônio Britto, recém nomeado diretor-executivo da Anahp, reflete sobre a integração entre os setores, a disseminação de notícias falsas e o futuro da saúde suplementar.

Britto acredita que a cooperação entre os setores, baseada em uma rede integrada de cuidados contínuos, é fundamental para “não só tornar o sistema de saúde mais eficiente e efetivo, mas também aumentar a qualidade da assistência à saúde da população”.

  • O secretário municipal da Saúde de São Paulo, Edson Aparecido, disse em entrevista, que o fato de alguns hospitais privados de SP solicitarem leitos do SUS para Covid-19, já que estavam lotados, é um feito inédito. Como o senhor avalia essa situação?

Nesse período de pandemia, o Brasil testemunhou uma grande integração de esforços entre os setores público e privado; ora um, ora outro, oferecendo apoio. Apesar das circunstâncias tristes do período, essas ações existiram.

Para que o sistema de saúde brasileiro venha a funcionar de forma adequada, precisamos ampliar o nível de integração. O Sistema Único de Saúde (SUS) desempenha um papel insubstituível, mas parte fundamental da oferta de serviços é feita pela rede privada. O país não tem o direito de não trabalhar por essa integração.

  • O que a Anahp espera do governo com relação à falta de medicamentos e como os hospitais estão lidando com essa situação?

Temos dialogado de forma muito próxima com o Ministério da Saúde, no intuito de nos colocar à disposição e dar visibilidade para a falta de insumos dos hospitais privados.

Nos colocamos contrários às requisições encabeçadas pelo Ministério da Saúde, de medicamentos já comprados pelos nossos hospitais, o que está colocando em grande risco o atendimento dos pacientes. Em paralelo, temos trabalhado caminhos para a importação dos produtos que estão em falta.

Precisamos de organização na logística de distribuição. É fundamental que toda a população possa ser atendida de forma adequada e não podemos separar rede pública e privada, o que temos em mãos são vidas que precisam ser salvas.

  • Quais as principais lições que o setor privado aprendeu com a pandemia da Covid-19?

A pandemia lançou luz para algumas questões que, em ambiente menos hostil, certamente demorariam mais para evoluir. Exemplo disso são as barreiras transpostas para a utilização da telemedicina no Brasil e a necessidade de olharmos mais cuidadosamente para a nossa força de trabalho na saúde, repensando os modelos assistenciais praticados, incorporando mais tecnologia e melhorando as rotinas e os fluxos, por exemplo.

  • Cada vez mais se fala na integração da saúde pública e privada para melhorar o setor como um todo. Como isso pode ser feito nos próximos anos?

O Brasil é um país continental e uma articulação adequada entre os setores público e privado é extremamente necessária. Há exemplos muito bem-sucedidos dessa integração em nosso território, porém de forma fragmentada.

Se existisse essa gestão coordenada do sistema de saúde, não haveria necessidade de situações drásticas, como as requisições administrativas que vêm ocorrendo desde o início da pandemia (de leitos, EPIs e medicamentos, por exemplo).

No modelo brasileiro, a administração pública é encarregada do financiamento, gestão dos recursos e prestação direta de serviços. Para que o setor público possa concentrar seus esforços no financiamento, planejamento e controle das atividades e resultados, é importante que compartilhe a organização dos recursos e a execução das ações com o setor privado.

A integração operacional entre os prestadores de serviços públicos e privados, e a coordenação de planejamento entre operadoras de planos de saúde e secretarias de saúde, poderão promover o intercâmbio de experiências de gestão, a redução de esforços duplicados, a racionalização dos recursos disponíveis para atendimento à população e o alinhamento do nível de qualidade dos serviços de saúde.

A cooperação entre os setores, baseada em uma rede integrada de cuidados contínuos, é fundamental para não só tornar o sistema de saúde mais eficiente e efetivo, mas também aumentar a qualidade da assistência à saúde da população.

  • Como a sua sólida experiência em cargos governamentais auxiliará nesta nova função na Anahp?

Cada um de nós é, em grande parte, conjunto das experiências que carrega. No meu caso, o fato de ter estado muito tempo no setor público determina que o meu entendimento em termos de saúde no Brasil seja o da não exclusão de nenhuma parcela da população. Não há solução para o setor privado sem o diálogo e interação com o setor público.

Segmentos do setor de saúde como hospitais, planos de saúde, indústria farmacêutica e rede de diagnósticos, não encontrarão soluções individuais e isoladas apenas para o seu segmento. Ou todos contribuímos para o aperfeiçoamento do sistema de saúde ou todos enfrentaremos as dificuldades.

O segmento de hospitais privados sabe de sua importância, mas também sabe que faz parte de um conjunto de interações que precisa funcionar melhor no país.

A entrevista completa será publicada na edição 75 da Revista Healthcare Management, em maio.

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