“O Fundamental Envolvimento do Paciente e Familiares”, por Marcos Gallo

A atenção no cuidar, o tratamento humanizado e foco no bem-estar do paciente faz parte da história da assistência ao paciente. A evolução da medicina, a incorporação de tecnologias e a especialização na saúde, fizeram com que o foco no paciente fosse aperfeiçoado – apesar do maior acesso à informação, erros e acertos no tratamento permaneceram sob o domínio da equipe de saúde. O paciente continuou um agente passivo nesse processo. O paciente tem o direito a um tratamento digno e de qualidade, também pode ativamente, contribuir para a melhoria da segurança do cuidado.

A partir deste contexto, em 2004 a Organização Mundial da Saúde (OMS), publicou a campanha “Patient for Patient”, e em 2013, o Ministério da Saúde lançou o Programa Nacional para Segurança do Paciente. Dar aos pacientes condições para esse engajamento significa uma “via de mão-dupla”, uma quebra de paradigma dentro de um ambiente culturalmente acostumado a ter no médico e equipe o portador do conhecimento final sobre todos os atos. As bases para a prevenção e enfrentamento de eventuais resistências que certamente surgiram nesse caminho foram à informação e transparência.

No campo da informação, muitos hospitais vêm trabalhando com a elaboração e distribuição de impressos educativos sobre questões para a prevenção de danos no decorrer da assistência. Como reforço, instalam nos quartos dos pacientes quadros informativos, cujo conteúdo incentiva o próprio paciente e familiar a cobrarem da equipe comportamentos de segurança, como a manutenção e confirmação da pulseira de identificação; checagem da identificação do paciente antes da administração de medicamentos; confirmação do nome e dose correta de medicamentos; procedimentos que precisam de autorização por escrito (termo de consentimento); obrigatoriedade de sinalização do lado a ser operado; higienização das mãos por todos os profissionais que entram no quarto, entre outras ações. Por outro lado, algumas Organizações de saúde adotaram o critério da transparência, com a divulgação dos seus resultados consolidados por meio de indicadores de segurança da assistência. Essas informações são muitas vezes disponibilizadas nos sites dos hospitais, ou publicadas nos murais internos das Organizações de saúde. Essas ações incentivam pacientes e familiares a contribuírem com sugestões para a melhoria dos resultados com foco na segurança assistencial.

Dentro de um amplo processo de humanização do atendimento em saúde

a segurança é fator essencial para a manutenção do direito à vida. Embora o impacto das medidas implantadas seja de difícil mensuração, a percepção é que a atuação conjunta de organizações de saúde e pacientes, é a forma mais eficiente para enfrentar os desafios relacionados à qualidade e segurança, e alcançar as metas estabelecidas.

Uma iniciativa para melhorar o envolvimento do paciente na assistência foi desenvolvida pela a Gordon and Betty Moore Foundation – Gordon Moore foi um dos criados da Intel em 1968 – e junto com sua esposa para promover mudanças positivas nas áreas da saúde, ciência e meio ambiente. A Fundação propõe que sejam feitos o envolvimento de pacientes e familiares através de dez ações:

  1. Educar os pacientes e familiares, adaptando abordagens de comunicação, e apoiando as necessidades dos pacientes. Por exemplo, traduzir informações médicas em linguagem simples para o paciente e sua família.
  2. Educar médicos e líderes para serem parceiros eficazes de pacientes e famílias.
  3. Proporcionar oportunidades de aprendizado, observação e prática para médicos quanto a questões de envolvimento do paciente.
  4. Redesenhar processos assistenciais, políticas e estruturas para proporcionar oportunidades de parcerias entre pacientes, familiares e equipe de saúde.
  5. Criar planejamentos de saúde individuais que reflitam as metas de saúde do paciente, usando dados para identificar os pacientes que têm uma maior necessidade de apoio. Fornecer treinamento para ajudar os pacientes a atingir essas metas.
  6. Criar novas parcerias dentro da organização para que os pacientes e as famílias tornem-se parte da estrutura de governança. Criar relatórios e promover o contato direto entre os conselheiros de pacientes e a liderança do hospital, e dedicar pessoal para supervisionar esse trabalho.
  7. Desenvolver medidas e realizar pesquisas para melhorar o atendimento, facilitar mudanças nos processos e avaliar as relações entre os resultados, experiências e engajamento de pacientes.
  8. Desenvolver medidas centradas no paciente tanto relacionadas a custos quanto a resultados, e explorar métodos que coletem dados personalizados em matéria de experiência do paciente. Por exemplo, usar um vídeo para capturar as interações e observações.
  9. Disponibilizar dados e informações transparentes para promover a responsabilidade organizacional quanto à qualidade e segurança, permitindo que os pacientes e as famílias sejam ativos em seu cuidado. Usar portais que permitam que os pacientes acessem seus registros de saúde eletrônicos em qualquer lugar, juntamente com ferramentas interativas que lhes permitam fazer correções. Certifique-se de que eles podem incluir a informação que é importante para eles, tais como metas de atendimento.
  10. Endossar legislações e regulamentações que incentivem o envolvimento do paciente e da família. Alinhar incentivos e penalidades para apoiar o envolvimento do paciente e exigir competências dentro da instituição que demonstrem envolvimento de pacientes e da família, com o objetivo de alcançar certificações ou acreditações.

A missão é melhorar a experiência e os resultados do atendimento ao paciente vem da co-fundadora, Betty Irene Moore, baseado na sua própria experiência no hospital e no cuidado de familiares que foram hospitalizados. A Sra Betty viu uma oportunidade de melhorar a qualidade e a segurança do atendimento prestado na área da Baía de São Francisco e com isso envolveu enfermeiras para liderar esforços de melhoria e obteve um grande sucesso. Com isso continuou o legado ao fornecer educação e treinamento a enfermeiras por meio da Escola de Enfermagem Betty Irene Moore, ligado a Universidade da Califórnia.

 

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