“Podemos estar diante de uma grande oportunidade de superar a cultura do ódio”

Presidente do Conselho Federal de Psicologia avalia o novo foco na saúde mental do mundo corporativo impulsionado pela Covid-19

 

A pandemia do novo coronavírus trouxe uma experiência inédita à população brasileira. O vírus impactou diversas vertentes da sociedade, como a economia, a educação, a política e a saúde mental das pessoas.

O estresse e o medo dos tempos atuais fizeram com que muitas empresas passassem a olhar com mais atenção a saúde mental de seus colaboradores.

Pesquisa realizada pela Amcham, Câmara de Comércio, com 199 lideranças brasileiras em abril de 2021 apontou que 49% dos executivos demonstraram preocupação com a saúde mental com sua equipe.

Para analisar o cenário atual do mercado na pandemia do ponto de vista da saúde mental, a presidente da presidente do Conselho Federal de Psicologia (CFP), Ana Sandra Fernandes Arcoverde Nóbrega, conversou exclusivamente com a plataforma HCM. Para ela, estilos de gestão ou de liderança farão diferença na forma como as equipes de trabalho se estruturam e trabalham nesse novo cenário. “Práticas de controle e supervisão usuais podem se mostrar potencialmente nocivas no novo contexto.”

Saúde e um novo comportamento

A pandemia potencializou o agravamento de transtornos mentais na população, principalmente problemas relacionados à ansiedade e depressão.  As consequências, segundo Ana, refletem no aumento do absenteísmo, na redução de pessoal e na diminuição do desempenho individual e de equipes.

Os problemas não param por aí. Os reflexos afetam os aspectos financeiros da empresa, gerando insegurança quanto ao futuro e sobrevivência dos empregos e, até mesmo, da própria organização.

Ana ressalta o aumento no número de afastamentos de trabalhadores por quadros de depressão, síndrome do pânico e outros transtornos da saúde mental. “O número de pessoas que apresentam surtos no trabalho também aumentou consideravelmente.”

A presidente destaca ainda que o aumento do desemprego devido à crise econômica aprofundada pela pandemia da Covid-19 acarretou no fechamento de muitas empresas (especialmente pequenas e microempresas) e, em consequência, potencializado o sentimento de insegurança no trabalho. “Essa insegurança é um outro componente para o aumento das dificuldades de ordem psicológica que o trabalhador vem enfrentando.”

Liderança reformulada

A presidente do Conselho Federal de Psicologia ressalta que a pandemia quebrou diversos paradigmas relacionados aos modelos de trabalho até então usuais. “Esta necessidade de readaptação em um curto espaço de tempo foi um dos grandes desafios para gestores e trabalhadores.”

Coube ao gestor prover um ambiente saudável, diminuindo as barreiras nas relações interpessoais, agora mediadas pelas tecnologias. “Certamente, estilos de gestão ou de liderança fazem a diferença na forma como as equipes de trabalho se estruturam e trabalham. Práticas de controle e supervisão usuais podem se mostrar potencialmente nocivas nesse novo contexto.”

Ana acredita em uma liderança empática, respeitosa e acessível. “De modo geral, não é uma virada de chave simples de se fazer. Requer consciência das organizações, das lideranças e das pessoas de um modo geral. Há uma necessidade de revisitar papéis e responsabilidades, a forma de fazer gestão e as competências envolvidas.”

Mais atenção, por favor

A pandemia nos colocou em contato com uma situação que pode vir a se repetir outras vezes. “Nesse sentido, estamos em uma espécie de laboratório, sendo cobaias de como somos capazes, ou não, de enfrentar algo tão devastador”, diz Ana.

A presidente do Conselho Federal de Psicologia ressalta que há importantes aprendizados que podemos aprender para modelarmos uma sociedade mais preparada para enfrentar eventos como este.

A tecnologia, por exemplo, que já era uma aliada fundamental, se tornou essencial para diversas relações.  “Tanto na educação como no trabalho, houve uma migração intensa para atividades mediadas por tecnologias – um grande desafio que, certamente, deixará repercussões para o futuro.”

Mas o ideal, para Ana, é fortalecer valores sociais que clamam por mais justiça, igualdade e solidariedade. “Podemos estar diante de uma grande oportunidade de superar essa cultura do ódio e do individualismo que, infelizmente, domina muito segmentos sociais e políticos.”

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