Raphael Luiz Haikel, Diretor Executivo e de Processos Clínicos do Hospital de Amor, reflete sobre como a inovação tecnológica, a educação em saúde e parcerias estratégicas são fundamentais para ampliar o acesso ao diagnóstico precoce e aumentar as chances de cura do câncer no Brasil

O Dia Mundial do Câncer, realizado em 4 de fevereiro, é uma data que visa conscientizar a população sobre a prevenção, o diagnóstico precoce e o tratamento da doença. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), o câncer é uma das principais causas de morte no mundo, responsável por cerca de 10 milhões de óbitos anualmente. No Brasil, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) estima que, para o triênio 2023-2025, ocorram mais de 704 mil novos casos por ano, com destaque para o câncer de pele não melanoma, mama, próstata, cólon e reto, pulmão e estômago.
Embora os números sejam alarmantes, o diagnóstico precoce continua sendo uma das ferramentas mais eficazes para aumentar as chances de cura. A inovação tecnológica e a conscientização da população são essenciais para combater a doença de forma mais eficiente. Para entender melhor como essas iniciativas estão sendo aplicadas na prática, conversamos com Raphael Luiz Haikel, Diretor Executivo e de Processos Clínicos do Hospital de Amor, instituição referência em oncologia no Brasil.

Como a instituição tem trabalhado para ampliar o acesso ao diagnóstico precoce do câncer? Quais são os principais desafios nessa frente?
A principal bandeira do Hospital de Amor é a prevenção, já que a detecção precoce do câncer tem várias frentes nessa luta. Atuamos com prevenção de câncer de mama, câncer de colo do útero, câncer de intestino, boca, pele e próstata. Levamos os exames o mais próximo possível da população, o que aumenta a adesão. Os maiores desafios são: superação na dificuldade de acesso e a conscientização das pessoas sobre a importância dos exames preventivos. Muitas vezes, o medo de descobrir uma doença faz com que as pessoas evitem o diagnóstico precoce, esquecendo que, se detectada cedo, a doença tem altas chances de cura.
Quais tecnologias emergentes estão sendo implementadas para tornar o diagnóstico mais rápido e preciso?
Temos utilizado tecnologias emergentes, como o teste de HPV para detecção precoce do câncer do colo do útero, já aprovado pela ANVISA e pelo Ministério da Saúde. No câncer de próstata, aplicamos o exame de PSA com resultado em 15 a 20 minutos. Além disso, a inteligência artificial (IA) tem um papel importante na leitura de exames de mama e pele. Desenvolvemos, junto a uma startup parceira, a Prev Life, uma tecnologia que avalia lesões de pele com o auxílio da IA para identificar riscos de melanoma. Ela tira a foto de uma lesão e com o auxílio da inteligência artificial, e ela consegue avaliar a possibilidade de ser câncer de pele, como melanoma ou não.
A inteligência artificial tem ajudado na detecção precoce do câncer?
A inteligência artificial já tem um lugar garantido na leitura dos exames dos laudos dos exames de mamografia. Mas a IA funciona ainda como um apoio ao diagnóstico médico. Nossa parceria com a Prev Life resultou em mais de 40 mil imagens analisadas, auxiliando na prevenção do câncer de mama e de pele.
Além da tecnologia, quais são as estratégias adotadas para conscientizar a população?
A detecção precoce é a diferença entre a cura ou não de quase todos os tipos de câncer, na maioria dos detectáveis, no caso humano. Isso é a diferença entre curar ou não. Então, uma coisa simples, fácil e rápida da população entender, é fazer a prevenção, por meio da detecção precoce. E além das tecnologias, o que nós usamos, que a população brasileira ainda carece, é educação. Nós trabalhamos muito com educação. Temos duas unidades móveis de educação, além das nossas unidades de Prevenção. A nossa equipe realiza palestras, busca ativa da população e treinamento de profissionais da área da saúde. Nós precisamos tornar exame de prevenção uma coisa corriqueira, como é com a vacinação infantil. Infelizmente, ainda existe tabu, mas prevenção salva vidas.
Como o Brasil se compara a outros países na adoção de tecnologias para o diagnóstico do câncer?
Em relação a outros países, nós estamos bem desenvolvidos, no caso de prevenção do câncer de mama. Somos auditados por uma instituição holandesa que é referência em mama, colo do útero, e intestino. Nós seguimos os protocolos internacionais e usamos o que eles utilizam lá fora, seguimos a mesma faixa etária. Por exemplo, metade do mundo fala em prevenção do câncer de mama a partir dos 50 anos, já a outra metade fala 40 anos, e nós seguimos com a faixa de 40 anos (diferente do Ministério da Saúde), ou seja, nós ampliamos a idade. Comparado ao restante do mundo, nós temos um bom acesso aos exames, operamos com 57 unidades móveis, o que facilita o acesso ao exame para a população. Creio que estamos em um lugar privilegiado, além de seguirmos oferecendo um atendimento de excelência.
A instituição tem realizado parcerias para detecção e tratamento da doença?
Sim, temos realizado parcerias para detecção, principalmente com o terceiro setor, como startups e empresas de tecnologia. Um exemplo é a parceria com uma startup que usa hemogramas antigos para classificar o risco de câncer em mulheres.
Gostaria de acrescentar algo?
O mais importante é levar informação à população. A educação em saúde é fundamental para que as pessoas compreendam que a prevenção ainda é o melhor remédio. Precisamos estimular o uso dos serviços já disponíveis no SUS, como a vacina contra o HPV, e vencer o tabu em torno do câncer.
O Dia Mundial do Câncer nos lembra da importância da prevenção, da educação em saúde e da inovação tecnológica como pilares essenciais para reduzir o impacto da doença no Brasil e no mundo.
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