Page 92 - Healthcare Management - Edição 54
P. 92
IGO
Um holofote no setor de Saúde
para enxergar suas distorções
AAssociação Brasileira de
Importadores e Distribui- 68 dias para autorizar o faturamento, hos- e planos de saúde, o que tem levado várias
dores de Produtos para pitais do SUS 62 dias, e hospitais privados empresas do setor a quebrar.
Saúde (ABRAIDI) realizou, 54 dias. Somente depois do faturamento
pela primeira vez em sua autorizado é que correm os 90 dias para pa- O objetivo do levantamento não foi cul-
história, um amplo estudo sobre o setor de gamento. Em 29% dos casos, o distribuidor par ninguém, mas traçar um raio-x do
fornecimento na área da Saúde. Ouvíamos demorou 180 dias para receber. segmento, jogar luz no problema para, jun-
muitas reclamações dos associados sobre tos, encontrarmos uma solução comum.
as condições comerciais de trabalho que O segundo ponto de deformação são as Apresentamos os dados para funcionários
nunca foram ideais, mas estão se tornando glosas. Ainda que haja intercorrências du- do governo, agências reguladoras, órgãos
insustentáveis nos últimos tempos. rante o ato cirúrgico nas quais se utiliza de fiscalização e de controle, parlamenta-
materiais não previstos anteriormente, fato res, executivos de empresas e dirigentes de
Para a nossa surpresa, o resultado do tra- que até justifica uma auditoria mais de- associações durante o I Fórum Brasileiro
balho “O ciclo de fornecimento de produ- talhada por parte de hospitais e planos de de Importadores e Distribuidores de Pro-
tos para a Saúde no Brasil” foi ainda mais saúde, não faz sentido a glosa de produtos e dutos para a Saúde, realizado recentemen-
alarmante do que os depoimentos dos asso- materiais de procedimentos que já haviam te em São Paulo.
ciados. A situação real constatada pela pes- sido previamente autorizados. Essa prática
quisa é muito ruim. As empresas de distri- totalizou R$ 100,8 milhões, atingindo 87% Vivemos a pior situação desde que atuo
buição no Brasil atuam de forma hercúlea, dos associados pesquisados. Os planos de nesse segmento há mais de 38 anos e não
tendo que atender um país de dimensões saúde representam 79% deste universo, os dá mais para seguir assim. E também não
continentais, investir em estoques eleva- hospitais conveniados ao SUS, 7%, e outras mais há espaço para discursos éticos se
dos de equipamentos e materiais e ainda fontes pagadoras, 15%. Percebemos que eles não forem colocados em prática. A
disponibilizar uma boa parte da estrutura existe uma glosa linear de cerca de 20%, transparência é questão de sobrevivência
necessária para as cirurgias em hospitais sem qualquer critério, apenas para poster- nos dias atuais. É preciso colocar o dedo
e/ou clínicas, não tendo remuneração ade- gar ainda mais os pagamentos. na ferida para que ela seja curada de uma
quada e sofrendo com graves distorções vez por todas.
que comprometem a saúde financeira das A terceira distorção e não menos im- SÉRGIO ROCHA
companhias. Nos países desenvolvidos, os portante, aliás, em termos financeiros é presidente da ABRAIDI - Associação Brasi-
hospitais são os responsáveis por essas es- a mais significativa: a inadimplência que leira de Importadores e Distribuidores
truturas, o que só reflete como o modelo atingiu 91% dos associados pesquisados. de Produtos para Saúde
brasileiro é insustentável. A estimativa com perdas por conta da fal-
ta de pagamento foi de R$ 692,2 milhões.
A primeira distorção encontrada, na A inadimplência se refere a valores não
pesquisa da ABRAIDI, foi a retenção de pagos há mais de 180 dias após o fatura-
faturamento que chegou a R$ 539,6 mi- mento, por simples calote ou falência. No
lhões, sendo R$ 331 milhões retidos por caso de órgãos públicos, há a questão de
convênios, planos de saúde e seguradoras, escassez de recursos que eles usam para
R$ 113,8 milhões por hospitais privados e não pagar. São quase dois anos sem rece-
R$ 94,8 milhões por hospitais conveniados ber valores extremamente expressivos que
ao SUS. A retenção é quando uma fonte pa- comprometem o fluxo de caixa, a sobre-
gadora (plano de saúde ou hospital), após vivência das empresas e milhares de em-
a realização de uma cirurgia previamente pregos. Boa parte desses custos acaba ten-
autorizada, não permite o faturamento dos do que ser absorvida, obrigatoriamente,
produtos consumidos, postergando o paga- pelos distribuidores, pois, na maioria dos
mento. A pesquisa revelou que convênios, casos, não conseguem repassar no preço
planos de saúde e seguradoras demoraram já tabelado pelo SUS e, ultimamente, vem
sendo tabelado também pelas operadoras
92 healthcaremanagement.com.br | edição 54 | HEALTHCARE Management
Um holofote no setor de Saúde
para enxergar suas distorções
AAssociação Brasileira de
Importadores e Distribui- 68 dias para autorizar o faturamento, hos- e planos de saúde, o que tem levado várias
dores de Produtos para pitais do SUS 62 dias, e hospitais privados empresas do setor a quebrar.
Saúde (ABRAIDI) realizou, 54 dias. Somente depois do faturamento
pela primeira vez em sua autorizado é que correm os 90 dias para pa- O objetivo do levantamento não foi cul-
história, um amplo estudo sobre o setor de gamento. Em 29% dos casos, o distribuidor par ninguém, mas traçar um raio-x do
fornecimento na área da Saúde. Ouvíamos demorou 180 dias para receber. segmento, jogar luz no problema para, jun-
muitas reclamações dos associados sobre tos, encontrarmos uma solução comum.
as condições comerciais de trabalho que O segundo ponto de deformação são as Apresentamos os dados para funcionários
nunca foram ideais, mas estão se tornando glosas. Ainda que haja intercorrências du- do governo, agências reguladoras, órgãos
insustentáveis nos últimos tempos. rante o ato cirúrgico nas quais se utiliza de fiscalização e de controle, parlamenta-
materiais não previstos anteriormente, fato res, executivos de empresas e dirigentes de
Para a nossa surpresa, o resultado do tra- que até justifica uma auditoria mais de- associações durante o I Fórum Brasileiro
balho “O ciclo de fornecimento de produ- talhada por parte de hospitais e planos de de Importadores e Distribuidores de Pro-
tos para a Saúde no Brasil” foi ainda mais saúde, não faz sentido a glosa de produtos e dutos para a Saúde, realizado recentemen-
alarmante do que os depoimentos dos asso- materiais de procedimentos que já haviam te em São Paulo.
ciados. A situação real constatada pela pes- sido previamente autorizados. Essa prática
quisa é muito ruim. As empresas de distri- totalizou R$ 100,8 milhões, atingindo 87% Vivemos a pior situação desde que atuo
buição no Brasil atuam de forma hercúlea, dos associados pesquisados. Os planos de nesse segmento há mais de 38 anos e não
tendo que atender um país de dimensões saúde representam 79% deste universo, os dá mais para seguir assim. E também não
continentais, investir em estoques eleva- hospitais conveniados ao SUS, 7%, e outras mais há espaço para discursos éticos se
dos de equipamentos e materiais e ainda fontes pagadoras, 15%. Percebemos que eles não forem colocados em prática. A
disponibilizar uma boa parte da estrutura existe uma glosa linear de cerca de 20%, transparência é questão de sobrevivência
necessária para as cirurgias em hospitais sem qualquer critério, apenas para poster- nos dias atuais. É preciso colocar o dedo
e/ou clínicas, não tendo remuneração ade- gar ainda mais os pagamentos. na ferida para que ela seja curada de uma
quada e sofrendo com graves distorções vez por todas.
que comprometem a saúde financeira das A terceira distorção e não menos im- SÉRGIO ROCHA
companhias. Nos países desenvolvidos, os portante, aliás, em termos financeiros é presidente da ABRAIDI - Associação Brasi-
hospitais são os responsáveis por essas es- a mais significativa: a inadimplência que leira de Importadores e Distribuidores
truturas, o que só reflete como o modelo atingiu 91% dos associados pesquisados. de Produtos para Saúde
brasileiro é insustentável. A estimativa com perdas por conta da fal-
ta de pagamento foi de R$ 692,2 milhões.
A primeira distorção encontrada, na A inadimplência se refere a valores não
pesquisa da ABRAIDI, foi a retenção de pagos há mais de 180 dias após o fatura-
faturamento que chegou a R$ 539,6 mi- mento, por simples calote ou falência. No
lhões, sendo R$ 331 milhões retidos por caso de órgãos públicos, há a questão de
convênios, planos de saúde e seguradoras, escassez de recursos que eles usam para
R$ 113,8 milhões por hospitais privados e não pagar. São quase dois anos sem rece-
R$ 94,8 milhões por hospitais conveniados ber valores extremamente expressivos que
ao SUS. A retenção é quando uma fonte pa- comprometem o fluxo de caixa, a sobre-
gadora (plano de saúde ou hospital), após vivência das empresas e milhares de em-
a realização de uma cirurgia previamente pregos. Boa parte desses custos acaba ten-
autorizada, não permite o faturamento dos do que ser absorvida, obrigatoriamente,
produtos consumidos, postergando o paga- pelos distribuidores, pois, na maioria dos
mento. A pesquisa revelou que convênios, casos, não conseguem repassar no preço
planos de saúde e seguradoras demoraram já tabelado pelo SUS e, ultimamente, vem
sendo tabelado também pelas operadoras
92 healthcaremanagement.com.br | edição 54 | HEALTHCARE Management